Leia o texto a seguir para responder às questões propostas. Use caneta azul ou preta para fazer esta atividade.
Dois séculos de argumentos
§1 - Vamos legalizar o ópio. É uma droga natural, extraída da papoula, flor do Afeganistão. Anestésico potente, é bom para dores do câncer, unhas encravadas, pernas quebradas e outras mais. Tem poder relaxante, cura o "mal-estar" da civilização.
§2 - Antes liberado em vários países, o ópio acabou banido devido a seus
efeitos nefastos. Após sua introdução ilegal por comerciantes ingleses em 1839,
a China proibiu o comércio da droga que ameaçava a estabilidade social e
financeira do país, bem como a saúde da população. A medida resultou em guerra
declarada pela Inglaterra.
§3 - O discurso atual sobre a maconha é semelhante ao que se empregava em
defesa da legalização do ópio. Diz-se que a erva não causa dependência, tem
efeitos terapêuticos e sua liberação traria consequências sociais positivas,
como reduzir o encarceramento de jovens das classes menos favorecidas.
Idealiza-se que o óleo de maconha está na mira da indústria automobilística
como fonte de combustível barato. Ou seja, é uma panaceia: cura tudo, resolve
mazelas sociais e ainda melhora a economia do país.
§4 - Será mesmo? A
"legalização" beneficiaria a quem? Quais as consequências para os
usuários? Conseguiríamos controlar seu uso por crianças e adolescentes, ou esse
dado também seria irrelevante, já que maconha não faz mal?
§5 - A dependência de qualquer droga decorre de múltiplos fatores
biopsicossociais. Até o momento, não temos teste para identificar quem se
tornará dependente ou não. O que sabemos é que 30% dos usuários de maconha desenvolvem
o vício e que alguns genes aumentam em até sete vezes o risco de dependência.
§6 - O princípio ativo da maconha, o THC, fica armazenado no tecido gorduroso
por até 28 dias e age no cérebro durante todo esse tempo. O efeito prolongado
pode ter implicações graves, por exemplo, na condução de veículos. Quanto mais
THC no sangue, maior o tempo de resposta do cérebro. Esse argumento fez a
Inglaterra adotar uma política de tolerância zero à presença de THC no sangue
de motoristas.
§7 - Mais alarmante é o potencial para desencadear doenças graves. Quadros
psicóticos agudos, com delírios e alucinações, são consequências comuns da
intoxicação por drogas como a maconha. O que poucos sabem é que a maconha hoje
comercializada é geneticamente modificada para ter alta concentração de THC, o que
acelera a dependência e potencializa as alucinações.
§8 - Mais grave ainda é o risco do desencadeamento de esquizofrenia em
adolescentes com predisposição a essa gravíssima doença mental crônica e
incapacitante. Segundo estudo norueguês, 13% dos casos de esquizofrenia seriam
evitáveis se o uso regular de maconha não ocorresse.
§91 - As consequências sociais são palpáveis. Um estudo neozelandês demonstrou
que, quanto mais cigarros de maconha uma pessoa fuma, menores são suas chances
de completar o segundo grau, ingressar na faculdade ou estar empregada aos 20
anos, diminuindo sua renda e sua satisfação com a vida.
§10 - A maconha reduz a capacidade cognitiva: prejudica a atenção, a memória e
o raciocínio e dificulta o planejamento. Dados mostram que pessoas que fizeram
uso habitual de maconha dos 15 aos 30 anos apresentam, em média, cinco pontos a
menos de Q.I. em comparação aos que apenas a experimentaram.
§11 - Procura-se confundir uso recreativo com uso de substâncias extraídas da
maconha que, purificadas e aplicadas em doses conhecidas, podem ter efeito
medicamentoso, desde que sob prescrição médica e manejo clínico, como acontece
com qualquer outro medicamento.
§12 - É estranho que a discussão do "uso recreativo" da maconha seja
prioritária. No Brasil, há 12 milhões de dependentes de álcool e estamos nos tornando
os maiores consumidores de cocaína do planeta. Será que outro entorpecente deve
ter seu uso banalizado ou passa da hora de o Brasil encarar com ponderação a
herança que o abuso de drogas, lícitas e ilícitas, deixará?
§13 - Que a China do século 19 nos sirva de exemplo. Que a incapacidade de
planejamento gerada pelo uso da maconha não afete a política brasileira, como
parece ter acontecido no Uruguai.
- Frederico Garcia, 35, é professor-coordenador do Centro de
Referência em Drogas da Universidade Federal de Minas Gerais e membro da Associação
Mineira de Psiquiatria
- Adaptado de: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/05/1450443-frederico-garcia-dois-seculos-de-argumentos.shtml. Acesso em: 20 maio 2014.
1 - Qual é a tese defendida no texto?
2 - Sublinhe e marque com número 2 no texto onde a tese aparece.
3 - Transcreva um trecho do texto que possa justificar um argumento de causa e consequência usado pelo autor.
4 - O texto apresenta algum argumento de autoridade? Se sim, justifique sua resposta. Se não, passe para a questão seguinte.
5 - Há algum trecho do texto em que apareça um argumento de exemplificação ou ilustração? Se sim transcreva-o. Se não, passe à questão seguinte.
6 - O autor usa algum argumento de prova concreta ou princípio? Se sim transcreva-o. Se não, passe à questão seguinte.
7 - Descreva em linhas gerais a estratégia argumentativa (recursos utilizados pelo autor para envolver o leitor e levá-lo a crer na validade da tese argumentada) usada pelo autor.
8 - As perguntas feitas no §4 foram respondidas ao longo do texto? Se sim, demonstre como pelo menos uma delas o foi. Se não, responda à próxima questão.
9 - Após a leitura do texto, justifique a escolha do título feita pelo autor.
10 - Marque a opção correta. O autor é favorável à legalização
( ) - do ópio ( ) - do THC
( ) - da maconha ( ) - NDA
( ) - do ópio e da maconha
Justifique a opção marcada acima.
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