MELLO,
Luiz Gonzaga de. Antropologia cultural:
iniciação, teoria e temas. 15a. ed. Petrópolis: Vozes, 2008, p, 177-197.
História
da Antropologia
Nosso objetivo ao estudar a
história da antropologia é mostrar como esta disciplina se desenvolveu ao longo
do tempo, até chegar até nós. O conhecimento dos fatos históricos do passado da
antropologia podem nos ajudar a entender a “utilidade” desta ciência. A
finalidade de conhecer o histórico da antropologia é ajudar a compreender o seu
alcance
Mello (2008, p. 178), seguindo a
divisão de Pareto, apresenta os níveis sob os quais o estudo da antropologia é
feito: 1 - o aspecto objetivo: busca saber a consistência das orientações
teóricas empregadas na antropologia e se o método usado é legítimo; 2 - o
aspecto subjetivo: os motivos que levam os autores a fazer escolhas por teorias
e seu êxito ou fracasso; e 3 - o aspecto da utilidade: a orientação teórica que
nos permite perceber a aplicação da antropologia em outras dimensões de nosso
cotidiano.
Mello irá contar a história da
antropologia dividida em quatro momentos, seguindo a divisão de T. K. Penniman:
período de formação (...-1835), período de convergência (1835-1869), período de
construção (1869-1900) e período de crítica (1900-...). É importante saber que
a antropologia, como as outras ciências, não tem data exata de nascimento: “A
ciência não nasce de um dia para o outro. Trata-se de um processo lento que
implica em criação, acumulação e reformulação de conhecimentos” (MELLO 2008, p.
179). Heródoto (480 ou 425-
Período
de formação (... - 1835)
Este momento pode ser traçado
desde a primitividade humana até os primeiros trinta anos do século XIX. A
discussão vai desde a pré-história da humanidade até as elaboradas teorias
sobre a evolução humana do final do primeiro milênio da humanidade ocidental.
O período do estudo da
pré-história da humanidade corresponde ao estudo dos primeiros hominídeos, sua
relação com o mundo, sua capacidade de organização social, seus instrumentos de
trabalho e caça e o aprendizado que eles nos legaram como herança. Parte do que
somos hoje é resultado da sobrevivência de nossos ancestrais. O domínio da
agricultura, por exemplo, foi fundamental para a sobrevivência dos povos antigos,
assim como é fundamental para nós até hoje.
Um dos relatos mais antigos
sobre a curiosidade humana em saber sua origem é a experiência encomendada pelo
príncipe egípcio Psamético. Heródoto narra esta experiência: duas crianças, uma
egípcia e outra frígia, são cuidadas por um pastor isoladas do grupo e no silêncio,
para ver qual a palavra original a ser pronunciada; e a palavra foi becos, que em frígio, e não em egípcio,
quer dizer pão. A tentativa era saber quem era o povo mais antigo. E o
resultado não alegrou Psamético. Outras contribuições foram a divisão de
Lucrécio: idade da pedra, do bronze e do ferro; as investigações no terreno da
filosofia e teologia de Agostinho, Averróis, Bacon, e Avicena, um dos
fundadores da medicina moderna.
A mudança do paradigma
teocêntrico para o antropocêntrico também é marcante neste período, juntamente
com a invenção da imprensa tipográfica de Gutemberg (1455), o que, juntamente
com a navegação, permitiu o aumento da transmissão de informações. Este é um
período no qual o homem se sente senhor da sua história e começa a andar por
novos caminhos, que desembocarão no Iluminismo e na ciência moderna.
Vamos ter o grande
desenvolvimento da antropologia cultural, a sistematização da antropologia
física, o surgimento da pré-história e da arqueologia. A expansão marítima
européia do séc. XVI trouxe à tona a presença de outros povos e os missionários
e conquistadores produziram fartos relatórios sobre outros “homens”
(aborígines; teoria monogenista, de que o homem teria uma origem única, é posta
em dúvida). Algumas viagens marítimas também eram aproveitadas para levar
pessoas para coletar dados etnográficos sobre os novos povos, a fim de juntar
informações para as pesquisas dos antropólogos europeus.
Este período ainda é marcado
pelos estudos da anatomia humana e pelos achados mais antigos dos fósseis
humanos.
Período de Convergência (1835-1869)
Este período é marcado pela
discussão do problema da evolução da humanidade. Boucher Perthes (1838) é o
primeiro a propor esta questão. Boas (1896) irá fazer uma crítica ao evolucionismo,
propondo a busca de métodos mais realistas e seguros na abordagem dos fatos sócio-culturais.
Vão surgir neste período várias revistas e associações de antropologia. E serão
definidos, por exemplo, os conceitos de sociedade e cultura. Os antropólogos
vão passar a ser vistos como “amigos” dos povos primitivos, porque eles lutaram
contra a expansão predatória européia que colocava em risco a vida dos grupos
primitivos, seu objeto de estudo.
Período de construção (1869-1900)
O marco importante deste período
é Charles Darwin (1859) “Origens das espécies”, obra clássica sobre a evolução
biológica das espécies. Considerado como fundador da moderna antropologia,
temos Edward Tylor, também evolucionista.
Outros nomes importantes deste
período: “...Batian, com sua teoria das ideias elementares; Bachofen, jurista
suiço, que estudou a mitologia clássica e defendeu uma evolução na organização
social que, segundo ele, logo após o regime de promiscuidade teria existido o matriarcado,
uma espécie de ginogracia; Sumner Maine, também jurista, via na família
patriarcal a unidade básica da organização social; McLennan desenvolveu a noção
de paralelismo e procurou interpretar vários costumes primitivos; Edward Tylor,
citado acima, é o nome mais importante para a antropologia cultural, porquanto
foi ele que definiu o termo ‘cultura’ e apresentou-a como objeto da
antropologia, estudou o fenômeno religioso, mas dedicou-se a todo o objeto da
antropologia dando-lhe uma sistematização tanto no seu objeto como no seu método:[sic]
Lewis Morgan também merece realce. É dele o clássico esquema da evolução cultural
(selvageria, barbárie e civilização); igualmente muito importante é o nome de
Frazer, que também se dedicou ao estudo do fenômeno religioso” (MELLO, 2008, p.
193).
Período de crítica (1900-...)
O período de crítica vem desde
1900 até hoje: crítica aos cânones iniciais da antropologia, novas abordagens,
avanço das ciências afins, os meios de comunicação permitiram maior divulgação
de ideias, democratização da educação, crescimento do movimento universitário,
antropologia inserida em muitos currículos (Univ. Liverpool: introdução da
primeira cátedra de antropologia social na Grã-Bretanha). A antropologia assume
um novo papel diante da necessidade de se entender não somente o homem
primitivo ou as tribos isoladas em outros continentes. A necessidade agora é
entender quem é o homem contemporâneo, seu comportamento e modo de vida. A
antropologia divide esta tarefa juntamente com outras ciências humanas.
Ainda no início do séc. XX
temia-se que o desaparecimento dos povos primitivos levasse consigo a antropologia.
Mas o que ocorreu foi a mudança metodológica: do imperialismo e colonialismo
europeu para o nacionalismo africano, latino-americano: a antropologia se votou
ao estudo do homem atual. Mello (2008, p. 195) diz que a “preocupação com o
desaparecimento dos povos primitivos levou uma parcela dos estudiosos a se
emprenhar numa tarefa, aparentemente de menor importância, de coletar e
registrar dados sem uma maior preocupação teórica. Esse trabalho é conhecido
com etnografia - a descrição dos costumes dos povos”.
Nos EUA a antropologia vai ser
marcada por uma forte influência da psicologia. Na Europa a pesquisa de campo
se consolida como um método fundamental para a formação do antropólogo. Nomes
importantes deste momento vão ser: Malinowski - funcionalismo; Radclife-Brown,
funcionalismo, criador do estruturalismo inglês; Lévi-Strauss, estruturalismo,
marcado por uma teoria bem formulada, mas deficiente na metodologia de pesquisa
de campo.
Nos países de Terceiro Mundo o
que se espera é o reflorescimento dos estudos sobre a aculturação, que
desemboque no surgimento da antropologia urbana, da cultura de massa, da cultura
popular, do folclore e dos efeitos da urbanização doentia sobre as
manifestações dessa cultura.
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