quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

BEALS, Ralph L.; HOIJER, Harry. "Antropologia e mundo moderno"

 

BEALS; HOIJER

Área:, antropologia, cultura

Tema(s): antropologia, aplicações, etnocentrismo, ciências sociais

 

BEALS, Ralph L.; HOIJER, Harry. Introducción a la antropología. 2a. ed., Madrid: Aguilar, 1977, pp. 742-749. Col. Cultura e historia.

 

 

 

p. 742

VI - Antropologia e mundo moderno

 

- A aplicação de métodos científicos aos fenômenos sociais é cercada por algumas dificuldades e descrenças: é possível fazer experimentos?, este é o confronto entre as ciências naturais e as ciências sociais.

- Experiência de Kluckhohn: problema apresentado a um grande número de entrevistados: como resolver o problema das escolas públicas da cidade?; Em seguida os entrevistados respondiam em uma lista com dez itens: o primeiro era: ver o que pensam os chefes - administradores, educadores, ministros... e seguir sua opinião; o décimo item era: encarregar a um investigador uma pesquisa para, posteriormente, formular uma opinião; a maioria das respostas seguiram o primeiro item.

- Mudança de paradigma: o maior conhecimento da cultura e comportamento humanos abre

p. 743

caminhos para a observação e intervenção mais efetiva da ciência.

- Aplicações da antropologia no mundo moderno:

     - estudo da cultura - entender outras culturas ajuda a entender a nossa cultura;

     - melhor compreensão de nossos comportamentos, instituições e crenças;

     - relações internacionais: entendimento de outras culturas para estabelecer critérios de relação com elas;

     - conceito de relatividade cultural: cada cultura guarda um modo próprio de comportar (canibalismo, poligamia);

- Não conhecer a cultura do outro leva à arrogância e ao etnocentrismo [a própria cultura como melhor que as demais].

p. 744

- É um erro supor que uma cultura é a chave de solução dos problemas de outro povo (programas de ajuda técnica da UNESCO etc.).

- As pessoas se assemelham mais quando conseguimos entendê-las.

- O impasse está em deixar claro o que se entende por “pessoas” e o que é necessário se realmente queremos “conhecê-las”.

p. 745

- Quase todos os países têm grupos de não são considerados “pessoas”: - os japoneses desconsideram os eta; - os brâmanes, os intocáveis; - os peruanos, os índios; - os norte-americanos, os negros; os ingleses, os estrangeiros; - [os brasileiros, ...].

- Alguns norte-americanos, por exemplo, tendem a desconsiderar a cultura, a língua, como critérios para se conhecer as pessoas mais a fundo, por dificuldade de aceitar que algumas pessoas possam ter uma interpretação diferente da que eles têm em relação a fenômenos comuns a toda humanidade.

- É bastante comum encontrar estrangeiros que se adaptam um tanto bem a culturas diferentes. Isso se deve ao fato de eles terem assimilado os padrões culturais das pessoas do lugar onde se encontram.

p. 746

- É inviável propor inovações a determinados grupos de pessoas, se não conhecemos sua cultura a as circunstâncias nas quais eles vivem. Estas inovações, muitas vezes mascaradas como ajuda tecnológica para o progresso, tendem a fracassar. Exemplos: 1 - tentativa do governo mexicano de proibir os índios otomis de beber o pulque (bebida ligeiramente alcoólica), mas que era fonte de água e sais minerais; 2 - tentativa norte-americana de impor aos navajos a medicina ocidental (os navajos atribuem as doenças a forças sobrenaturais).

- A industrialização é que desencadeou este grande processo de revolução tecnológica. [Mas tecnologia é TUDO o que TODOS precisam?]

p. 747

- O papel do antropólogo é de fomentar o maior respeito aos valores culturais e buscar caminhos de adaptação ao mundo industrializado, garantindo o direito de todos à sua própria cultura.

p. 748

- Garantir a existência de uma cultura é não interferir no interior dela a partir dos critérios de nossa cultura (ex.: os esquimós - em épocas de escassez alimento, matança de anciãos e enfermos que não trabalham para garantir comida para todos). Qualquer intervenção deveria partir do contexto fundante da cultura em questão.

- “Se voltamos ao papel da antropologia enquanto nos ajuda a compreender a nós mesmos, a relatividade cultural pode ser outra vez mal entendida. A comoção motivada pelo achado de que o comportamento que consideramos mau caso seja condenado ou inclusive aprovado em outras culturas, conduz às vezes aos estudantes incompetentes para a crítica a acreditar que é lícito para eles abandonar toda norma de comportamento. Semelhante ponto de vista aparece totalmente injustificado, porque todas as culturas possuem regras morais com profundas raízes históricas e com razões funcionais para sua existência dentro da cultura dada. O que é mau em uma cultura pode ser considerado bom em outra, e vice versa, precisamente pelas mesmas razões (as regras são necessárias par ao funcionamento idôneo da cultura e para a adequada adaptação do indivíduo a seu próprio ambiente). Respeitar os costumes de outros não equivale a dizer que esses costumes devem ser praticados igualmente em nossa cultura.”

p. 749

A antropologia, como as outras ciências sociais, não pretende dar conta sozinha da tarefa de estudar o comportamento humano e dar todas as respostas aos problemas sociais. Ela contribui a partir de um conceito central de cultura e das intensas comparações com tantas outras culturas. A grande tarefa é sempre utilizar todo conhecimento em benefício de toda humanidade.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário