quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

DRUCKER, Peter F. "Como pode o indivíduo sobreviver?"

 

DRUCKER

Área: sociedade e novas tecnologias, mudanças econômicas e sociais.

Tema(s): Trabalho e trabalhador na sociedade do conhecimento.

 

DRUCKER, Peter F. Uma era de descontinuidade: orientações para uma sociedade em mudança. 3. ed. Tradução de J.R. Brandão Azevedo. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. “Como pode o indivíduo sobreviver?”, pp. 275-294. (Original: The age of discontinuity: guidelines to our changing society - 1969).

 

 

p. 275

11. Como pode o indivíduo sobreviver?

 

- “O descontentamento estudantil não é nada de novo. Mas atual alienação do membro mais privilegiado da sociedade atual, o jovem estudante, é algo realmente muito novo.”

- “Hoje, todavia, existe uma verdadeira ‘internacional estudantil’. É claro que não há comando central algum, nem um credo comum; mas há um inimigo comum. É a organização. Os estudantes ‘ativistas’ de hoje são contra a organização e sua autoridade em qualquer forma que ela se apresente.”

p. 276

- “A percepção dos jovens de que a sociedade tornou-se uma sociedade de organizações e de que isso contrasta de modo gritante com a sociedade a que se referem nossos livros, nossa retórica política e nossas convenções é uma compreensão perfeita e realista.” Mesmo assim, não abrimos mão das organizações.

- “Zombar do poder só o torna mais opressivo. O poder precisa ser usado. Se o decente e idealista atirar o poder à sarjeta, os moleques de rua o apanharão. [...] O poder não utilizado para fins sociais passa às pessoas que o exercem para seus próprios fins.”

p. 277

- “Não é verdade que os jovens repudiem a liderança. Eles a buscam.” A sua crítica contra a organização está voltada à falsa liderança. Os jovens podem se tornar presas fáceis para líderes demagogos e totalitários.

- “Os estudantes sempre tendem a estar inquietos.”

- “O fato de a grande maioria dos estudantes de hoje ser proveniente de lares sem tradição de educação superior é em si mesmo uma importante razão da inquietação estudantil.”

p.  278

- Há um grande conflito de gerações, sobretudo quando a juventude constata que os mais velhos estão no poder.

- A alienação dos jovens pode ser interpretada como uma doença passageira, ligada a uma fase. “Mas como sintoma, a alienação dos jovens deve ser levada a sério. Subjacente a ela está a percepção de que a sociedade de organizações traz à baila problemas para o indivíduo,

p. 279

problemas esses que ainda não recebem atenção da teoria social e política, e muito menos ainda uma resposta.”

 

O peso da decisão

 

- “É, antes de mais nada, o peso da decisão imposto pela sociedade de organizações que os jovens acham assustador e contra o qual se rebelam. De repente há escolhas para diversas carreiras; há pouco tempo, a grande maioria tinha suas carreiras determinada desde o nascimento. Subitamente, fazem-se necessárias decisões acerca da direção e do objetivo do conhecimento”.

p. 280

- “Mas a reação dos jovens, ainda que fútil, reflete mais uma vez uma verdadeira compreensão. A sociedade de organizações exige do indivíduo decisões relativas a si mesmo.” Ao decidir sobre sua carreira o indivíduo se questiona: “O que farei?” Mas há uma pergunta implícita: “A que causa desejo servir?” “E subjacente a esta há a exigência de que o indivíduo assuma a responsabilidade por si mesmo. ‘O que farei de mim?’, e não ‘O que farei?’ é a verdadeira pergunta que está sendo feita pelos jovens, em função da multidão de escolhas que se lhes apresentam.”

- Estas questões existenciais não foram levantadas, ao menos no ocidente, durante muitos anos. “A Reforma Protestante de há quatrocentos anos foi a última a propô-las como questões gerais a serem respondidas por todos. Enquanto que o Catolicismo medieval tinha dado uma resposta automática de salvação pela obediência, a Reforma exigia do indivíduo que ele se indagasse a si próprio: ‘Quem eu quero ser a fim de ser salvo?’.”

- “De todos os grandes pensadores do século XIX, só Kierkegaard indagou ‘Como é possível a existência humana?’ Para todos os outros esta era uma pergunta sem sentido e fora de moda. Todos eles perguntavam: ‘Como é possível a sociedade?’.”

p. 281

- “Mas, pelo menos, a alienação dos jovens no mundo inteiro hoje em dia mostra indubitavelmente que a essas questões terão de ser levadas em consideração. Porque a sociedade de organizações proporciona escolhas, impondo, por conseguinte, ao indivíduo o peso das decisões. Cobra-lhe o preço da liberdade: a responsabilidade.”

 

As esferas da Liberdade

 

- “O totalitarismo difere de todas as tiranias do passado pelo fato de aspirar ao controle total da sociedade, e não ao controle apenas do governo.”

- “Mas , ao mesmo tempo, numa sociedade pluralista deste tipo é remoto o perigo da tirania tradicional, puramente política. [...] A sociedade pluralista é uma organização de ‘poderes em equilíbrio’, como mostrou J. Kenneth Galbraith há quase vinte anos. ** De fato, o perigo do pluralismo, como nos ensina a história, não é o domínio deste ou daquele grupo de interesse; é o colapso causado pela indecisão e por uma imobilização dos ‘poderes em equilíbrio’ e em competição.” (Nota ** Em seu livro American Capitalism - 1952).

p. 282

- “A mais leve intenção de qualquer instituição de reivindicar uma ‘responsabilidade’ que ultrapasse sua esfera estreita deve ser considerada como usurpação. Pode visar ao bem. Pode, a curto prazo, parecer de interesse social. Na verdade, pode ser a única maneira de conseguir que um trabalho urgente seja feito e bem feito. Mas é incompatível com uma sociedade livre. É uma ameaça à liberdade.”

- Nem mesmo a repartição pública escapa a esta regra. “Transformar a

p. 283

repartição pública numa parte da ‘soberania’ é, com efeito, usurpar o poder.”

p. 284

- “Na sociedade pluralista de organizações, a regra terá de ser a oposta: toda organização, não importa sua posição ou propriedade lega, é um instrumento com um propósito específico. Somente na medida em que suas ações sejam necessárias à realização de seu objetivo específico são elas legítimas. Caso contrário, são nulas e inúteis. O que é legal para uma organização é determinado pela função, e não pela forma.”

p. 285

- Em relação à mobilidade no trabalho, as relações entre trabalhador e empregador dentro de uma organização também precisam ser prensadas.

- “Precisamos de garantias contra a anulação arbitrária do contrato de emprego pelo empregador. A lei tem o dever de proteger o mais fraco numa relação contratual e de impedir que o mais poderoso abuse de sua vantagem.”

p. 286

- A liberdade pelo trabalho: direito ao trabalho; o trabalhador como equilíbrio entre as tensões do indivíduo e da sociedade.

p. 287

- “Além das garantias legais contra o poder opressivo, precisamos de garantias administrativas contra o governo opressivo. Numa organização, homens pequenos têm uma grande dose de poder.” Um empregado atrás de um balcão não é ninguém na empresa ou até em casa, mas pode tentar provar sua importância, abusando do público, fazendo-o esperar. Nos Estados Unidos, nos correios, uma saída foi implantar fiscais, “inspetores postais”, que secretamente vigiam o comportamento dos funcionários.

p. 288

-“Com a organização como realidade profunda da sociedade, a defesa do indivíduo contra a indolência, a arrogância e a tirania dos subalternos é uma garantia essencial.”

- “Esta é a ideia implícita na invenção sueca do Ombudsman - agora introduzido na Inglaterra - cuja função é proteger o cidadão contra a burocracia. [...] Ele não pode impedir a anulação da liberdade pela ditadura. Mas pode refrear a erosão da liberdade causada pelo descuido, pela preguiça e pela arrogância.”

- “Um dos direitos individuais que o Ombudsman precisa garantir mais preocupadamente - e contra todas as organizações - é o direito à vida privada. Na verdade, nunca existiu esse direito. Nas comunidades do passado, a tribo, a aldeia, a pequena cidade, a vida privada era desconhecida. Um ermitão na caverna era o único homem que gozava alguma vez do isolamento.”

p. 289

- “O direito à não-intromissão é uma benção da Revolução Industrial e de uma sociedade de classe média. O número de pessoas que o desejam de fato é, provavelmente, pequeno. Todavia, num mundo de organizações poderosas, é uma garantia necessária da liberdade.” Pois, até que ponto é necessário o conhecimento sobre o indivíduo?

- “O fato de podermos gravar todas as informações - e as informações erradas - sobre as pessoas nas memórias dos computadores não justifica nossa preocupação com a vida privada.”

- “Numa sociedade pluralista não há organizações ‘boas’ ou ‘más’. Todas elas são necessárias, e todas são capazes de degenerar.”

p. 290

- “As empresas, não importa quem as possua, devem ater-se ao fornecimento de bens e serviços em troca de retribuição econômica. As universidades devem limitar-se ao avanço e ao ensino do conhecimento e a torná-lo eficaz. Os militares devem restringir-se restringir-se à defesa da nação.” As organizações devem ater-se a seus objetivos.

p. 291

 

p. 292

 

p. 293

 

p. 294

 

 

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