DRUCKER |
Área: sociedade e novas tecnologias, mudanças econômicas e sociais. |
Tema(s): Trabalho e trabalhador na sociedade do conhecimento. |
|
||
DRUCKER,
Peter F. Uma era de descontinuidade:
orientações para uma sociedade em mudança. 3. ed. Tradução de J.R. Brandão
Azevedo. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. “Como pode o indivíduo sobreviver?”,
pp. 275-294. (Original: The age of discontinuity: guidelines to our changing
society - 1969). |
||
|
|
|
p. 275 |
11. Como pode o indivíduo sobreviver? -
“O descontentamento estudantil não é nada de novo. Mas atual alienação do
membro mais privilegiado da sociedade atual, o jovem estudante, é algo
realmente muito novo.” -
“Hoje, todavia, existe uma verdadeira ‘internacional estudantil’. É claro que
não há comando central algum, nem um credo comum; mas há um inimigo comum. É
a organização. Os estudantes ‘ativistas’ de hoje são contra a organização e
sua autoridade em qualquer forma que ela se apresente.” |
|
p. 276 |
-
“A percepção dos jovens de que a sociedade tornou-se uma sociedade de organizações
e de que isso contrasta de modo gritante com a sociedade a que se referem
nossos livros, nossa retórica política e nossas convenções é uma compreensão
perfeita e realista.” Mesmo assim, não abrimos mão das organizações. -
“Zombar do poder só o torna mais opressivo. O poder precisa ser usado. Se o
decente e idealista atirar o poder à sarjeta, os moleques de rua o apanharão.
[...] O poder não utilizado para fins sociais passa às pessoas que o exercem
para seus próprios fins.” |
|
p. 277 |
-
“Não é verdade que os jovens repudiem a liderança. Eles a buscam.” A sua
crítica contra a organização está voltada à falsa liderança. Os jovens podem
se tornar presas fáceis para líderes demagogos e totalitários. -
“Os estudantes sempre tendem a estar inquietos.” -
“O fato de a grande maioria dos estudantes de hoje ser proveniente de lares
sem tradição de educação superior é em si mesmo uma importante razão da
inquietação estudantil.” |
|
p. 278 |
-
Há um grande conflito de gerações, sobretudo quando a juventude constata que
os mais velhos estão no poder. -
A alienação dos jovens pode ser interpretada como uma doença passageira,
ligada a uma fase. “Mas como sintoma, a alienação dos jovens deve ser levada
a sério. Subjacente a ela está a percepção de que a sociedade de organizações
traz à baila problemas para o indivíduo, |
|
p. 279 |
problemas
esses que ainda não recebem atenção da teoria social e política, e muito
menos ainda uma resposta.” O peso da decisão -
“É, antes de mais nada, o peso da decisão imposto pela sociedade de
organizações que os jovens acham assustador e contra o qual se rebelam. De
repente há escolhas para diversas carreiras; há pouco tempo, a grande maioria
tinha suas carreiras determinada desde o nascimento. Subitamente, fazem-se
necessárias decisões acerca da direção e do objetivo do conhecimento”. |
|
p. 280 |
-
“Mas a reação dos jovens, ainda que fútil, reflete mais uma vez uma
verdadeira compreensão. A sociedade de organizações exige do indivíduo
decisões relativas a si mesmo.” Ao decidir sobre sua carreira o indivíduo se
questiona: “O que farei?” Mas há uma pergunta implícita: “A que causa desejo
servir?” “E subjacente a esta há a exigência de que o indivíduo assuma a
responsabilidade por si mesmo. ‘O que farei de mim?’, e não ‘O que farei?’ é
a verdadeira pergunta que está sendo feita pelos jovens, em função da
multidão de escolhas que se lhes apresentam.” -
Estas questões existenciais não foram levantadas, ao menos no ocidente,
durante muitos anos. “A Reforma Protestante de há quatrocentos anos foi a
última a propô-las como questões gerais a serem respondidas por todos.
Enquanto que o Catolicismo medieval tinha dado uma resposta automática de
salvação pela obediência, a Reforma exigia do indivíduo que ele se indagasse
a si próprio: ‘Quem eu quero ser a fim de ser salvo?’.” -
“De todos os grandes pensadores do século XIX, só Kierkegaard indagou ‘Como é
possível a existência humana?’ Para todos os outros esta era uma pergunta sem
sentido e fora de moda. Todos eles perguntavam: ‘Como é possível a
sociedade?’.” |
|
p. 281 |
-
“Mas, pelo menos, a alienação dos jovens no mundo inteiro hoje em dia mostra
indubitavelmente que a essas questões terão de ser levadas As esferas da Liberdade -
“O totalitarismo difere de todas as tiranias do passado pelo fato de aspirar
ao controle total da sociedade, e não ao controle apenas do governo.” -
“Mas , ao mesmo tempo, numa sociedade pluralista deste tipo é remoto o perigo
da tirania tradicional, puramente política. [...] A sociedade pluralista é
uma organização de ‘poderes em equilíbrio’, como mostrou J. Kenneth Galbraith
há quase vinte anos. ** De fato, o perigo do pluralismo, como nos ensina a
história, não é o domínio deste ou daquele grupo de interesse; é o colapso
causado pela indecisão e por uma imobilização dos ‘poderes em equilíbrio’ e
em competição.” (Nota ** Em seu livro American Capitalism - 1952). |
|
p. 282 |
-
“A mais leve intenção de qualquer instituição de reivindicar uma
‘responsabilidade’ que ultrapasse sua esfera estreita deve ser considerada
como usurpação. Pode visar ao bem. Pode, a curto prazo, parecer de interesse
social. Na verdade, pode ser a única maneira de conseguir que um trabalho
urgente seja feito e bem feito. Mas é incompatível com uma sociedade livre. É
uma ameaça à liberdade.” -
Nem mesmo a repartição pública escapa a esta regra. “Transformar a |
|
p. 283 |
repartição
pública numa parte da ‘soberania’ é, com efeito, usurpar o poder.” |
|
p. 284 |
-
“Na sociedade pluralista de organizações, a regra terá de ser a oposta: toda
organização, não importa sua posição ou propriedade lega, é um instrumento
com um propósito específico. Somente na medida em que suas ações sejam
necessárias à realização de seu objetivo específico são elas legítimas. Caso
contrário, são nulas e inúteis. O que é legal para uma organização é
determinado pela função, e não pela forma.” |
|
p. 285 |
-
Em relação à mobilidade no trabalho, as relações entre trabalhador e
empregador dentro de uma organização também precisam ser prensadas. -
“Precisamos de garantias contra a anulação arbitrária do contrato de emprego
pelo empregador. A lei tem o dever de proteger o mais fraco numa relação
contratual e de impedir que o mais poderoso abuse de sua vantagem.” |
|
p. 286 |
-
A liberdade pelo trabalho: direito ao trabalho; o trabalhador como equilíbrio
entre as tensões do indivíduo e da sociedade. |
|
p. 287 |
-
“Além das garantias legais contra o poder opressivo, precisamos de garantias
administrativas contra o governo opressivo. Numa organização, homens pequenos
têm uma grande dose de poder.” Um empregado atrás de um balcão não é ninguém
na empresa ou até em casa, mas pode tentar provar sua importância, abusando
do público, fazendo-o esperar. Nos Estados Unidos, nos correios, uma saída
foi implantar fiscais, “inspetores postais”, que secretamente vigiam o
comportamento dos funcionários. |
|
p. 288 |
-“Com
a organização como realidade profunda da sociedade, a defesa do indivíduo
contra a indolência, a arrogância e a tirania dos subalternos é uma garantia
essencial.” -
“Esta é a ideia implícita na invenção sueca do Ombudsman - agora introduzido na Inglaterra - cuja função é
proteger o cidadão contra a burocracia. [...] Ele não pode impedir a anulação
da liberdade pela ditadura. Mas pode refrear a erosão da liberdade causada
pelo descuido, pela preguiça e pela arrogância.” -
“Um dos direitos individuais que o Ombudsman
precisa garantir mais preocupadamente - e contra todas as organizações - é o
direito à vida privada. Na verdade, nunca existiu esse direito. Nas
comunidades do passado, a tribo, a aldeia, a pequena cidade, a vida privada
era desconhecida. Um ermitão na caverna era o único homem que gozava alguma
vez do isolamento.” |
|
p. 289 |
-
“O direito à não-intromissão é uma benção da Revolução Industrial e de uma
sociedade de classe média. O número de pessoas que o desejam de fato é,
provavelmente, pequeno. Todavia, num mundo de organizações poderosas, é uma
garantia necessária da liberdade.” Pois, até que ponto é necessário o conhecimento
sobre o indivíduo? -
“O fato de podermos gravar todas as informações - e as informações erradas -
sobre as pessoas nas memórias dos computadores não justifica nossa preocupação
com a vida privada.” -
“Numa sociedade pluralista não há organizações ‘boas’ ou ‘más’. Todas elas
são necessárias, e todas são capazes de degenerar.” |
|
p. 290 |
-
“As empresas, não importa quem as possua, devem ater-se ao fornecimento de
bens e serviços em troca de retribuição econômica. As universidades devem
limitar-se ao avanço e ao ensino do conhecimento e a torná-lo eficaz. Os
militares devem restringir-se restringir-se à defesa da nação.” As
organizações devem ater-se a seus objetivos. |
|
p.
291 |
|
|
p.
292 |
|
|
p.
293 |
|
|
p.
294 |
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário