LAPLANTINE |
Área: antropologia |
Tema(s): história da antropologia; século XVIII e desenvolvimento do conceito de homem |
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LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. Tradução Marie-Agnès Chauvel; prefácio Maria Isaura Pereira de Queiroz. São Paulo: Brasiliense, 2007, p. 54-62. (Clefs pour L’antrhopologie 1988) (Cap. 2 - Part 1 - O século XVIII: a invenção do conceito de homem) |
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durante o Renascimento temos um esboço da interrogação sobre a existência
múltipla do homem sobre o globo -
no século seguinte o que se dá é a redução ao cogito e serão excluídos “...da razão o louco, a criança, o
selvagem, enquanto figuras da anormalidade”. -
[a estrutura cartesiana sujeito-objeto vai pôr em questão a existência de um
sujeito autônomo diante do mundo e que precisa apoiar-se num método científico
confiável para conhecer e dominar a natureza] |
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Foucault - As palavras e as coisas
- apresenta a ideia de que o homem não existia antes do final do século
XVIII, sua criação é recente - “O homem é uma invenção e a arqueologia de
nosso pensamento mostra o quanto é recente.’ -
“O projeto antropológico (e não a realização da antropologia como a
entendemos hoje) supõe: 1) a
construção de um certo número de conceitos, começando pelo próprio
conceito de homem, não apenas
enquanto sujeito, mas enquanto objeto do saber; 2) a
constituição de um saber que não seja apenas de reflexão, e sim de observação,
isto é, de um novo modo de acesso ao homem, que passa a ser considerado em
sua existência concreta, envolvida nas determinações de seu organismo, de
suas relações de produção, de sua linguagem, de suas instituições, de seus
comportamentos.” |
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“3) uma
problemática essencial: a da diferença. Rompendo com a cosmovisão de uma
transparência imediata do cogito, coloca-se
pela primeira vez no século XVIII a questão da relação ao impensado, bem como a dos possíveis processos de
reapropriação dos nossos condicionamentos fisiológicos, das nossas relações
de produção, dos nossos sistema (sic) de organização social.” -
a linguagem se apresenta com precedente ao homem, pois ele é exterior a ela;
tal concepção era inimaginável antes; “A sociedade do século XVIII vive uma
crise de identidade do humanismo e da consciência européia.” |
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“4) um
método de observação e análise: o método indutivo. Os grupos sociais (que
começam a ser comparados a organismos vivos, podem ser considerados como
sistemas ‘naturais’ que devem ser estudados empiricamente, a partir da
observação de fatos, a fim de extrair princípios gerais, que hoje chamaríamos
de leis.” -
“Esse projeto de um conhecimento positivo
do homem - isto é, de um estudo de sua existência empírica considerada por
sua vez como objeto do saber - constitui um evento considerável na história
da humanidade.” - este evento se tornou constitutivo da modernidade; -
as bases da ruptura com o humanismo do Renascimento e com o racionalismo do
século clássico podem ser traçadas desde o século XVI; |
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“1) Trata-se em primeiro lugar da natureza dos objetos observados. Os
relatos dos viajantes dos séculos XVI e XVII eram mais uma busca cosmográfica do que uma pesquisa etnográfica.” - os relatos desses
viajantes poucas vezes eram sobre “inclinações” e “costumes” dos povos; no
mais das vezes relatavam sobre o céu, a terra, fauna e flora, e quando se
falava do homem, as descrições eram do homem
físico; “2) Simultaneamente, o destaque se desloca
pouco a pouco do objeto de estudo
para a atividade epistemológica,
que se torna cada vez mais organizada.
Os viajantes dos séculos XVI e XVII coletavam ‘curiosidades’. Espíritos
curiosos reuniam coleções que iam formar os famosos ‘gabinetes de
curiosidades’, ancestrais dos nossos museus contemporâneos”. - a preocupação
no século XVIII é como coletar e como dominar o que foi coletado, pois há um
crescente acúmulo de informação que precisa ser sistematizada, interpretada e
elaborada; a esta atividade se chamará de etnologia; |
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no século XVIII também se forma o par do viajante e do filósofo: o observador
que recorre os quatro cantos do mundo e o pesquisador incumbido da tarefa de
análise e síntese; embora esta parceria seja promissora, mas nem sempre livre
de conflitos (Bougainville e Rousseau têm um confronto); -
“Para o primeiro, bem como para todos os filósofos naturalistas do século das
luzes, se é essesncial observar, é preciso ainda que a observação seja esclarecida: Uma prioridade é portanto
conferida ao observador, sujeito que, para aprender corretamente seu objeto,
deve possuir um certo número de qualidades”. - temos o surgimento da Sociedade
dos Observadores do Homem (1799-1805), cujos membros eram chamados
“ideólogos” e eram moralistas, filósofos, naturalistas, médicos, que têm por
objetivo estudar “...(o homem nos seus aspectos |
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físicos,
psíquicos, sociais, culturais)...” |
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obstáculos para o surgimento de uma antropologia científica: “1) A distinção entre o saber científico e o saber filosófico, mesmo senta
abordada, não é de forma alguma realizada. Evidentemente, o conceito da
unidade e universalidade do homem, que é pela primeira vez claramente
afirmado, coloca as condições de produção de um novo saber sobre o homem.” -
há questionamentos acerca da natureza, da produção e repartição das riquezas,
sobre o discurso, mas não se ainda dos saberes da biologia, economia, filosofia
ou linguística; - “O conceito de homem tal como é utilizado
no ‘século das luzes’ permanece ainda muito abstrato, isto é, rigorosamente
filosófico. Estamos na impossibilidade de imaginar o que consideramos hoje
como as próprias condições epistemológicas da pesquisa antropológica. De
fato, para esta, o objeto de observação não é o ‘homem’, e sim indivíduos que
pertencem a uma época e a uma cultura, e o sujeito que observa não é de forma
alguma o sujeito da antropologia filosófica, e sim um outro indivíduo que
pertence ele próprio a uma época e a uma cultura.” |
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“2)
O discurso antropológico do século XVIII é inseparável do discurso histórico
desse período, isto é, de sua concepção de uma história natural, liberada da teologia e animando a marcha das
sociedades no caminho de um progresso universal.” - caberá ao evolucionismo,
mesmo sendo historicista, dar o passo de emancipação a este contexto. |
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