segunda-feira, 15 de abril de 2024

DRUCKER, Peter F. Uma era de descontinuidade - 13. Trabalho e trabalhador na sociedade do conhecimento

 

DRUCKER

Área: sociedade e novas tecnologias, mudanças econômicas e sociais.

Tema(s): Trabalho e trabalhador na sociedade do conhecimento.

 

DRUCKER, Peter F. Uma era de descontinuidade: orientações para uma sociedade em mudança. 3. ed. Tradução de J.R. Brandão Azevedo. Rio de Janeiro: Zahar, 1976, pp. 323-349. (Original: The age of discontinuity: guidelines to our changing society - 1969).

 

 

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13. Trabalho e trabalhador na sociedade do conhecimento

 

- nos últimos vinte anos a economia americana deixou de ser baseada no trabalho manual e passou a depender mais do trabalho baseado no conhecimento;

-“Não sabermos ainda administrar empregados com conhecimento par ao desempenho quase não surpreende, considerando quão recente é a transferência para o trabalho baseado no conhecimento. Afinal, não faz cem anos que começamos a preocupar-nos com a administração do trabalhador manual.”

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- “O trabalho com base no conhecimento não é facilmente definido em termo s quantitativos, podendo, de fato, não se prestar a quantificação alguma. É lógico que o computador não pode medir o trabalho do programador que o faz funcionar.”

- “Também não sabemos administrar o empregado com conhecimento a fim de que ele deseje contribuir e realiza. Mas sabemos com certeza que ele precisa ser administrado de modo bastante diverso daquele pelo qual administramos o trabalhador manual.”

- “Aquilo para que o empregado com conhecimento precisa estar positivamente motivado é a realização. É preciso que ele saiba que contribui.”

- “As exigências do empregado com conhecimento são muito maiores que as do empregado manual e, com efeito, bastante diversas.”

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- “Só recentemente, quando a crise industrial gerou a ociosidade forçada enquanto que a produtividade industrial nos permitiu manter homens desempregados acima do nível de subsistência, logramos perceber que o trabalho é uma necessidade psicológica e social do homem, e não somente o processo de ganharmos nosso pão de todo dia.”

- “Os empregados com conhecimento não podem satisfazer-se com os trabalhos que representem apenas um meio de vida. Suas aspirações e sua visão de si mesmo são as do ‘profissional’ ou do ‘intelectual’. Se têm algum respeito pelo conhecimento, exigem que este se torne a base da realização.”

- “Os empregados com conhecimento também exigem que as exigências que lhes são feitas o sejam pelo conhecimento e não por chefes, quer dizer, por objetivos e não por pessoas.”

- “Os empregados com conhecimento ainda necessitam de um superior. A estrutura da organização precisa identificar claramente aonde (sic) se localizam as decisões finais e as responsabilidades últimas.”

- o trabalho com conhecimento não exige uma hierarquia de poder, mas sim de conhecimento: o que deve ser feito é assim não por causa do poder ou do nome, ou do prestígio de quem manda, mas porque a tarefa assim o exige;

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- “O conhecimento, portanto, tem de ser organizado como uma equipe em que a tarefa decide quem está encarregado, quando, por que e durante quanto tempo.”

- as estruturas organizacionais devem ser rígidas e flexíveis;

- “O trabalho baseado no conhecimento, se ‘só passa despercebido’, não é produtivo. Isso tem uma grande implicação para a vida e carreira do próprio empregado com conhecimento, bastante distinta de se significado para sua administração.”

- “Tornar produtivo o trabalho baseado no conhecimento será a grande tarefa administrativa deste século - exatamente como tornar o produtivo o trabalho manual foi a grande tarefa administrativa do século passado.”

 

O empregado com conhecimento e o período de vida útil

 

- “Independente do grau de satisfação proporcionado pela atividade do indivíduo, um grande número de empregados com conhecimento tende a fatigar-se com seus trabalhos logo que

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começa a atingir a meia-idade.

-“As pessoas que estiveram trabalhando com base no conhecimento durante mais ou menos vinte anos não podem parar. Mas a grande maioria delas também não pode prosseguir. Não dispõe de recursos internos.”

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- a manutenção de profissionais assim pode ser conseguida através da atualização de estudos, uma “recauchutagem”;

- o caminho não é esperar encurtar o período de vida útil aumentando os anos de estudo, mas sim diminuir os anos de estudo na escola antes de se iniciar o trabalho baseado no conhecimento;

- “Não podemos livrar-nos do problema. Mas podemos - e devemos - transformá-lo numa oportunidade. Precisamos permitir que o empregado com conhecimento e de meia-idade dê início a uma segunda carreira baseada no conhecimento.”

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- a fatiga em profissionais com 45 ou 50 anos de idade é sinal de que eles atingiram o auge físico e mental, seu trabalho já não apresenta mais desafios e os passatempos culturais pouco amenizarão a situação de desgaste;

- esses profissionais ainda têm o forte desejo de “contribuir” para a sociedade;

- “No entanto, ao mesmo tempo, temos na América - e continuaremos tendo - uma carência crescente de pessoal em muitas áreas de trabalho baseado no conhecimento. Estamos, por exemplo, tendo dificuldade cada vez maiores no recrutamento de jovens par ao clero, par o ensino e para a medicina.”

- antes estas áreas tinham um status peculiar na tradição familiar; hoje, mesmo que paguem bem, estas ocupações não são atrativas devido à exigência de envolvimento prematuro do jovem;

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- mas com o passar dos anos, estas ocupações parecem ser atrativas para aqueles profissionais que ainda querem “contribuir” para a sociedade;

- o homem da organização precisa saber como funcionam as estruturas de sua organização e as das outras também;

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- a medida da aposentadoria compulsória aos 65 anos é uma medida mais preocupada com a inserção de força jovem no mercado do que com a velhice das pessoas;

-“E uma organização que não possui empregados jovens e com conhecimento é uma organização que não pode

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crescer, só podendo defender o passado. Mas negar trabalho a um homem qualquer que seja a sua idade também é uma crueldade desnecessária e um desperdício de recursos humanos.”

- “Um homem de idade bem avançada e já incapaz de trabalhar ativamente pode não ter sofrido prejuízo algum de seu julgamento e pode ser um homem que tome decisões melhores que há vinte anos.”

- “O planejamento financeiro para a aposentadoria é uma boa idéia. Mas o preparo psicológico para a aposentadoria não tem dado certo.”

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- “A instituição precisa livrar-se das pessoas que estejam muito fatigadas para prestar sua contribuição. O indivíduo precisa da oportunidade de tornar-se novamente produtivo, sem um ponto final preestabelecido para sua vida útil. Por isso, precisamos criar oportunidades gerais para segundas carreiras - e em especial para segundas carreiras em atividades em que não seja necessária uma aposentadoria a uma idade fixa, que dizer, onde não haja pessoal jovem que fique marcando passo nos níveis inferiores, e. g., o clérigo ou o médico trabalhando por conta própria.”

- é necessário a mudança de atitude e pôr de lado a vergonha ou o medo de voltar a estudar; ou começar tudo de novo aos 45 anos;

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Problemas da transição

 

- o trabalho baseado no conhecimento é que marcará as mudanças futuras na sociedade do conhecimento;

- a automação foi considerada uma ameaça ao trabalho, mas ela tomou o lugar do trabalhador manual, que teve que se qualificar para assumir o controle da máquina novamente; nesse sentido, a automação abriu oportunidades;

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- uma conseqüência do trabalho baseado no conhecimento é colocar em posição de desclassificação e insignificância o trabalhador não-qualificada;

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- contudo, o trabalhador não-qualificado se beneficiou da aplicação do conhecimento ao trabalho, pois ele pode associar o conhecimento à sua habilidade e tornar-se trabalhador semi-qualificado;

- essa mudança permitiu que ele se adaptasse às necessidades laborais do momento, mas reproduziu os mesmo sistemas de exclusão social e desvalorização de status já sofridos pelo operário na Revolução Industrial;

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- nos EUA, a posição social do empregado não-qualificado está caindo, o que pede maior atuação de seus sindicatos;

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- a saída para o governo é a de qualificar essas pessoas: transição de não-qualificados a empregados com conhecimento;

- “A política do governo deve apressar a transição. Esta é a única maneira de controlá-la. De outra forma, o trabalho não -qualificado tornar-se-á um perigo. Precisamos ter condições de estimular o indivíduo que possa modificar-se - ou a seu filho - a fim de tornar-se, ele próprio, um empregado com conhecimento.”

- essa deve ser uma tarefa política e também social;

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- uma experiência: “...Programa de Novas carreiras elaborado pela Universidade de Nova York”: treinamento de indivíduos do gueto negro para ocupações de serviços gerias com vistas a se profissionalizar naquela área de atuação; trata-se de um aprendizado sistemático: “Isto requer não só novos métodos de aprendizado. Também requer a intenção, por parte das profissões e das instituições contratantes, de reformular as etapas de suas carreiras e recompensar o desempenho e as realizações.”

- a tendência é que o trabalho baseado no conhecimento se torne mais comum e empregue cada vez mais pessoas;

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- o ofício pede aprendizado prático, que dura até o fim da vida, o que torna o ofício conservador;

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- “O aprendizado de um ofício torna um homem inapto para o aprendizado de qualquer coisa nova ou diferente. Ele foi treinado na idéia de que esta é a única maneira de se executar este trabalho.”

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- exemplo japonês: todos eram treinados para executar qualquer trabalho dentro da empresa, antes do modernização de 1867;

- mesmo o alto escalão recebia treinamento até a aposentadoria;

- o emprego era para a vida inteira - melhorar a empresa era o mesmo que garantir estabilidade no trabalho;

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- essa realidade mudou, mesmo no Japão: se o trabalho é baseado no conhecimento e o conhecimento evolui depressa, a

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estabilidade no trabalho deve ser conseguida com a capacidade de aprender depressa;

- “A única segurança real numa economia e sociedade em mutação é saber o suficiente para ser capaz de mover-se.”

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- problema norte-americano de exclusão social no trabalho: a população, em sua maioria negra, está distante dos grandes salários;

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- mesmo a formação educacional - tempo de permanência na escola - privilegiou o jovem branco;

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- o equilíbrio social depende da colocação profissional da população negra excluída;

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- este equilíbrio dependerá também da mudança cultural: eliminar o pré-conceito;

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- já há, atualmente, um crescimento do empregado negro com conhecimento e uma identificação maior deste com sua comunidade;

 

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