segunda-feira, 15 de abril de 2024

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação - Cap. 11 - Concepções de homem

 

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação, São Paulo: Moderna, 1996, p. 112-115.

 

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Cap. 11 - Concepções de homem

O que é o homem? É esta a primeira e principal pergunta da filosofia. (...) Se pensamos nisto, a própria pergunta não é um pergunta abstrata ou “objetiva”. Nasceu daquilo que refletimos sobre nós mesmos e sobre os outros e queremos saber, em relação ao que refletimos e vivemos, o que somos e em que coisa nos podemos tornar, se realmente e dentro de que limites somos “artífices de nós próprios”, da nossa vida, do nosso destino. E isto queremos sabê-lo “hoje”, nas condições dadas hoje, pela vida “hodierna” e não por uma vida qualquer e de qualquer homem. (Antonio Gramsci)

1 - Antropologia filosófica

- é o questionamento filosófico que o homem faz de si mesmo;

- as nossas concepções de mundo e as nossas formas de agir partem de uma idéia de homem que temos, conscientes ou não;

- reconhecer esta visão de homem é importante para o educador para que sua práxis seja intencional e não somente empírica;

- cada teoria pedagógica tem uma base antropológica própria que determina seus conteúdos e métodos de ensino;

2 - Concepção metafísica

- abordagem herdada dos gregos - busca a unidade na multiplicidade dos seres: a essência que caracteriza cada coisa;

- o conceito de homem é dado a partir de uma natureza imutável: mesmo havendo diferenças entre os seres humanos, há uma essência humana a ser atingida com o amadurecimento (modelo a ser alcançado);

- esta concepção está na base das mais antigas teorias pedagógicas, de Platão e Aristóteles até a escola tradicional, que surge na Idade Moderna;

- a educação é um processo de aperfeiçoamento: o indivíduo é levado a “realizar suas potencialidades” (ressalve-se a teoria de ato e potência de Aristóteles como caminho de atualização da essência);

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- Kant, séc. XVII, “o fim da educação é desenvolver, em cada indivíduo a perfeição de que ele seja capaz”;

- limites desta concepção: visão parcial do problema educacional, centrado no interior do indivíduo (essencialismo) e nas formas que determinam a priori o que é o homem e como a educação deve ser (modelo);

3 - Concepção naturalista

- vindas da Idade Moderna (séc. XVII), as bases filosóficas de Descartes e Locke e o método científico de Galileu e Newton fazem surgir uma concepção de conhecimento que orienta nossa forma de pensar até hoje;

- a ciência surge como forma rigorosa de conhecer e perceber as regularidades da natureza, levando à formulação de leis e à previsibilidade dos fenômenos;

- com a ciência surge também a tecnologia; de Francis Bacon a frase: “saber é poder”;

- na educação temos: a busca de compreensão do homem e da regularidades que marcam seu comportamento;

- para Descartes: o homem é um ser dual (antropologia dualista) psicofísico, constituído por mente (substância pensante = res cogita) e corpo (substância extensa = res extensa); e o corpo é visto como uma máquina, um “instrumento universal, com leis próprias e imutáveis” (modelo mecânico ou mecanicista);

- influências do naturalismo:

- surge a concepção determinista: o homem, reduzido à dimensão corpórea, está sujeito às forças da natureza, tornando-se incapaz de gerir seu próprio destino;

- para a psicologia experimental: importa a exterioridade do comportamento do homem, a sua consciência é deixada de lado, como inacessível aos procedimentos científicos de então;

- behaviorismo: inspira uma metodologia que enfatiza a rigorosa programação dos passos para se adquirir conhecimento;

- um representante: Skinner: criou a famosa “máquina de ensinar”;

- características da tendência naturalista: tentativa de adequar a metodologia das ciências humanas ao método das ciências da natureza, que se baseia na experimentação, no controle e na generalização;

4 - Concepção histórico-social

- mecanicismo newtoniano, o empirismo de Locke e a supremacia da razão começam a ser criticados no período do Romantismo alemão (séc. XVIII);

- representante da antropologia romântica: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778);

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- sua contribuição por ter deslocado centro tradicional do processo da educação fixado no mestre para o discípulo, considerando o sentimento como centro de sua visão de homem;

- Hegel (1770-181), filósofo do idealismo alemão: desenvolve a filosofia do devir, concebendo o ser como processo, como movimento, como vir-a-ser;

- ele privilegia a história, mudando a direção da antropologia: o homem passa a ser pensado como ser-no-tempo;

- concepção dialética: para Hegel a história não é a justaposição de fatos, mas o resultado de um dramático processo cujo motor é a contradição; (tese-antítese-síntese);

- a verdade não é mais um fato, uma essência, mas o resultado do desenvolvimento do Espírito;

- na sua concepção idealista o indivíduo participa do movimento de manifestação do Espírito;

- Marx confronta esta concepção de Hegel e transforma o idealismo em materialismo: o mundo material é anterior ao espírito, e este deriva daquele;

- no materialismo histórico marxista: para entender o homem e a sociedade é preciso analisar o que eles fazem, a forma como produzem os bens necessários à vida;

- para Marx não existe uma natureza humana universal: o homem é definido pela sua produção e pelo trabalho coletivo; Marx não define o homem de forma abstrata, mas de forma real, sempre ligada a um contexto histórico-social;

- no séc. XIX outros filósofos se posicionaram contra a concepção tradicional: Kierkegaard, Stimer e Nietzsche se voltaram para

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- no séc. XX nasce a fenomenologia, de Husserl, e seus seguidores são Maz Scheler, Heidegger, Sartre e Merlau-Ponty;

- para Sartre: só o homem é um “ser-para-si”, aberto à possibilidade de construir sua própria existência, “a existência vem antes da essência”; “o homem não é mais que o que ele faz”;

- destaque-se na concepção histórico-social: preocupação com o processo (nada é estático), com a contradição (não ha linearidade no desenvolvimento, que resulta do embate e do conflito) e caráter social do engendramento humano (o ser do homem se faz a partir de suas relações e de suas formas de produção e organização ao longo da história);

- esta concepção tem forte influência pedagógica nos dias de hoje, pois abandona as explicações essencialistas e estáticas para compreender o homem como ser social interagindo com a sociedade e as formas de poder nela presentes;

5 - Tornar-se homem

(- diante das constantes transformações pelas quais a sociedade humana passa fica claro a necessidade de compreender sobre que base antropológica estamos trabalhando;

- considerando a história como um processo dialético de constantes mudanças, onde o homem se encontra agora como um ser que é e também com um ser que pode vir-a-ser, surge a necessidade de manter os olhos abertos e aguçados na busca de compreender o homem e que participação a educação pode ter neste processo);

 

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