ARANHA, Maria Lúcia de
Arruda. Filosofia da educação, São Paulo: Moderna, 1996, p. 112-115.
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Cap. 11 - Concepções de
homem O que é o homem? É esta a
primeira e principal pergunta da filosofia. (...) Se pensamos nisto, a
própria pergunta não é um pergunta abstrata ou “objetiva”. Nasceu daquilo que
refletimos sobre nós mesmos e sobre os outros e queremos saber, em relação ao
que refletimos e vivemos, o que somos e em que coisa nos podemos tornar, se
realmente e dentro de que limites somos “artífices de nós próprios”, da nossa
vida, do nosso destino. E isto queremos sabê-lo “hoje”, nas condições dadas
hoje, pela vida “hodierna” e não por uma vida qualquer e de qualquer homem.
(Antonio Gramsci) 1 - Antropologia
filosófica - é o questionamento
filosófico que o homem faz de si mesmo; - as nossas concepções de
mundo e as nossas formas de agir partem de uma idéia de homem que temos,
conscientes ou não; - reconhecer esta visão de
homem é importante para o educador para que sua práxis seja intencional e não
somente empírica; - cada teoria pedagógica
tem uma base antropológica própria que determina seus conteúdos e métodos de
ensino; 2 - Concepção metafísica - abordagem herdada dos
gregos - busca a unidade na multiplicidade dos seres: a essência que
caracteriza cada coisa; - o conceito de homem é
dado a partir de uma natureza imutável: mesmo havendo diferenças entre os
seres humanos, há uma essência humana a ser atingida com o amadurecimento
(modelo a ser alcançado); - esta concepção está na
base das mais antigas teorias pedagógicas, de Platão e Aristóteles até a
escola tradicional, que surge na Idade Moderna; - a educação é um processo
de aperfeiçoamento: o indivíduo é levado a “realizar suas potencialidades”
(ressalve-se a teoria de ato e potência de Aristóteles como caminho de
atualização da essência); |
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- Kant, séc. XVII, “o fim da
educação é desenvolver, em cada indivíduo a perfeição de que ele seja capaz”; - limites desta concepção:
visão parcial do problema educacional, centrado no interior do indivíduo
(essencialismo) e nas formas que determinam a priori o que é o homem e
como a educação deve ser (modelo); 3 - Concepção
naturalista - vindas da Idade Moderna
(séc. XVII), as bases filosóficas de Descartes e Locke e o método científico
de Galileu e Newton fazem surgir uma concepção de conhecimento que orienta
nossa forma de pensar até hoje; - a ciência surge como
forma rigorosa de conhecer e perceber as regularidades da natureza, levando à
formulação de leis e à previsibilidade dos fenômenos; - com a ciência surge
também a tecnologia; de Francis Bacon a frase: “saber é poder”; - na educação temos: a
busca de compreensão do homem e da regularidades que marcam seu
comportamento; - para Descartes: o homem é
um ser dual (antropologia dualista) psicofísico, constituído por mente
(substância pensante = res cogita) e corpo (substância extensa = res
extensa); e o corpo é visto como uma máquina, um “instrumento universal, com
leis próprias e imutáveis” (modelo mecânico ou mecanicista); - influências do
naturalismo: - surge a concepção
determinista: o homem, reduzido à dimensão corpórea, está sujeito às forças
da natureza, tornando-se incapaz de gerir seu próprio destino; - para a psicologia
experimental: importa a exterioridade do comportamento do homem, a sua
consciência é deixada de lado, como inacessível aos procedimentos científicos
de então; - behaviorismo: inspira uma
metodologia que enfatiza a rigorosa programação dos passos para se adquirir
conhecimento; - um representante:
Skinner: criou a famosa “máquina de ensinar”; - características da
tendência naturalista: tentativa de adequar a metodologia das ciências
humanas ao método das ciências da natureza, que se baseia na experimentação,
no controle e na generalização; 4 - Concepção
histórico-social - mecanicismo newtoniano, o
empirismo de Locke e a supremacia da razão começam a ser criticados no
período do Romantismo alemão (séc. XVIII); - representante da
antropologia romântica: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778); |
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- sua contribuição por ter
deslocado centro tradicional do processo da educação fixado no mestre para o
discípulo, considerando o sentimento como centro de sua visão de homem; - Hegel (1770-181),
filósofo do idealismo alemão: desenvolve a filosofia do devir, concebendo o
ser como processo, como movimento, como vir-a-ser; - ele privilegia a
história, mudando a direção da antropologia: o homem passa a ser pensado como
ser-no-tempo; - concepção dialética: para
Hegel a história não é a justaposição de fatos, mas o resultado de um
dramático processo cujo motor é a contradição; (tese-antítese-síntese); - a verdade não é mais um
fato, uma essência, mas o resultado do desenvolvimento do Espírito; - na sua concepção
idealista o indivíduo participa do movimento de manifestação do Espírito; - Marx confronta esta
concepção de Hegel e transforma o idealismo em materialismo: o mundo material
é anterior ao espírito, e este deriva daquele; - no materialismo histórico
marxista: para entender o homem e a sociedade é preciso analisar o que eles
fazem, a forma como produzem os bens necessários à vida; - para Marx não existe uma
natureza humana universal: o homem é definido pela sua produção e pelo
trabalho coletivo; Marx não define o homem de forma abstrata, mas de forma
real, sempre ligada a um contexto histórico-social; - no séc. XIX outros
filósofos se posicionaram contra a concepção tradicional: Kierkegaard, Stimer
e Nietzsche se voltaram para |
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- no séc. XX nasce a
fenomenologia, de Husserl, e seus seguidores são Maz Scheler, Heidegger,
Sartre e Merlau-Ponty; - para Sartre: só o homem é
um “ser-para-si”, aberto à possibilidade de construir sua própria existência,
“a existência vem antes da essência”; “o homem não é mais que o que ele faz”; - destaque-se na concepção
histórico-social: preocupação com o processo (nada é estático), com a
contradição (não ha linearidade no desenvolvimento, que resulta do embate e
do conflito) e caráter social do engendramento humano (o ser do homem se faz
a partir de suas relações e de suas formas de produção e organização ao longo
da história); - esta concepção tem forte
influência pedagógica nos dias de hoje, pois abandona as explicações
essencialistas e estáticas para compreender o homem como ser social
interagindo com a sociedade e as formas de poder nela presentes; 5 - Tornar-se homem (- diante das constantes
transformações pelas quais a sociedade humana passa fica claro a necessidade
de compreender sobre que base antropológica estamos trabalhando; - considerando a história
como um processo dialético de constantes mudanças, onde o homem se encontra
agora como um ser que é e também com um ser que pode vir-a-ser, surge a
necessidade de manter os olhos abertos e aguçados na busca de compreender o
homem e que participação a educação pode ter neste processo); |
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