segunda-feira, 15 de abril de 2024

Antropologia Filosófica e Social

Orientações: Atividade composta de 12 questões; todas devem ser respondidas à caneta azul ou preta. A rasura nas questões objetivas anula a questão. A rasura nas questões abertas deve ser marcada apenas com um traço. Bom trabalho.

 

1 - Quais dos efeitos do processo de modernização podem ser sentidos ainda hoje? Explique ao menos dois.

 

2 - Vamos considerar que a sociedade da organização precisa de um “homem da organização”. Se considerarmos o contador como aquele que cuida das estruturas financeiro-sociais da organização, que comparações você poderia fazer entre as características do “homem da organização” com a formação do contador? Em outras palavras, o contador precisa ser um “profissional da organização”? Por quê?

 

3 - Quando o autor fala do processo de diferenciação, que relação ele estabelece entre as sociedades simples e as sociedades complexas?

 

4 - O que você pode explicar sobre a interação das organizações sociais? (Como ocorre, quem controla...)

 

5 - Quais as características do homem da organização? Explique ao menos 2 (duas) das características presentes na opção marcada.

a - orientação à realização, tolerância à frustração, mobilidade social;

b - raciocínio lógico, mobilidade social, habilidade técnica;

c - mobilidade social, adaptação ao meio, trabalho individual;

d - orientação à realização, percepção do grupo, habilidade técnica;

 

6 - Relacione as colunas:

a - modelo de mediação laissez-faire

 

b - modelo de mediação por regulamentação ativa

 

c - modelo de mediação de sistema de planejamento indicativo

 

d - modelo de mediação por planejamento global

(   )

 

 

(   )

 

 

(   )

 

(   )

- é aquele no qual a intervenção do Estado se dá de forma mais dinâmica, regulamentando com leis específicas a atuação particular das organizações na sociedade;

- é aquele no qual a intervenção do Estado é quase que nula, e aparece somente nos momentos de crise extrema que poderiam levar à paralisação das demais organizações da sociedade;

- é aquele no qual o Estado intervém de maneira direta e controla a atuação das organizações;

- é aquele no qual a intervenção do Estado se dá de forma propositiva, através de metas estabelecidas a longo prazo que possam ser apoiadas pelo governo em anos posteriores;

 

7 - Os males da organização poderiam ser entendidos por:

a - nepotismo, suborno, alta taxa de mortalidade e carência;

b - corrupção, nepotismo, suborno e ineficácia;

c - corrupção, má educação, mercado fraco e partido único;

d - suborno, balança instável, mercado fraco e ineficácia;

 

8 - O que Weber entende por secularização e racionalismo ascético?

a - o cuidado com este mundo e não o outro e a capacidade de sacrificar-se pelo bem da empresa;

b - o cuidado com este mundo e a capacidade de estudar pelo bem da empresa;

c - o cuidado empresarial que prepara este mundo e a capacidade de organizar a empresa de forma sacrificada;

d - o cuidado com o mundo da empresa e a capacidade de administrar os sacrifícios do trabalho;

 

9 - As mudanças posteriores à Revolução Industrial puderam ser sentidas somente:

a - nos setores de produção;                          

b - nos setores de produção e economia;

c - nos setores de economia e política;                      

d - nos setores de produção e demais setores da sociedade;

 

10 - Que exemplos Etzioni (1984) usa para demonstrar os reflexos da modernização social posterior à industrialização?

a - a política, a religião e a cultura;                            

b - o padrão de vida, a consciência política e o progresso da ciência;

c - a economia, a arte e a religião;                            

d - a política, a cultura e a arte;

 

11 - As sociedades simples e complexas têm as mesmas necessidades sociais?

a - sim             b - não

 

12 - Quais dos itens a seguir podem ser considerados como as funções ou necessidades do grupo social?

a - produção de bens, manufaturação, integração política e integração social;

b - distribuição de produtos, manufaturação, integração social e integração cultural;

c - produção de bens, integração social, controle político e controle social;

d - produção de bens, distribuição de produtos, integração social e integração normativa;


Atividade Funcionalismo e Estruturalismo

Atividade Funcionalismo e Estruturalismo.

 

Texto usado: MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 256-260; 263-267. (Funcionalismo e Estruturalismo).

 

Texto para as questões 1 e 2:

 

Anotações fictícias de campo - Tribo Pataós - 1976

 

A tribo parece viver poucos conflitos sociais. As decisões, dependendo do que se trata, são normalmente resolvidas pelo chefe da tribo, o pajé e a mulher mais velha da tribo. Vez por outra este grupo se reúne e em algumas ocasiões pude perceber que o aprendiz do pajé também participava, mudo, de cabeça baixa, sempre com as mãos para trás. A tribo é de mobilidade relativamente estável. Se a terra deixa de produzir, um pequeno deslocamento é feito, mas a proximidade com o rio é sempre mantida na mesma medida.

01-03

- Hoje foi o primeiro dia de estadia com a Tribo dos Pataós (TP). Fui levado ao centro da oca e o pajé, que já estava sentando perto da fogueira, me tomou pela mão e me pôs sentado do lado dele. Todos os demais começaram uma dança em silêncio, enquanto o pajé ia mexendo nas brasas como quem procurava alguma coisa perdida. Até que ele achou uma brasa e me ofereceu. Eu não sabia se era para pegar ou deveria só agradecer. Nisto o pajé somente chegou a brasa perto de mim e a dança parou. Depois de um longo silêncio, uma mulher me trouxe uma cuia com água pra beber. Antes que eu bebesse o pajé me disse que aquela brasa significava minha presença na tribo. Do mesmo jeito que a brasa fora da fogueira perdia sua força, de agora em diante minha força só teria valor se estivesse somada à força da tribo. E a água da cuia, ele me deu um pouco para beber, um pouco ele jogou na brasa e empurrou-a de novo para a fogueira. Todos ficaram olhando. Assim que a brasa se reacendeu, todos começaram a cantar e a comida foi servida.

02-03

- Faltou comida logo cedo. Assim que acordei, vi que as mulheres estavam agitadas arrumando a oca e os apetrechos da “cozinha”: lenha, panelas, umas peneiras. No meio do terreiro uns homens estavam reunidos. As crianças estavam sentadas num semi-círculo ao redor deles. Quando me aproximei, logo recebi uma pintura preta por todo o corpo e uma lança na mão. A caçada estava definida. As crianças se dispersaram. Fomos para o rio.

...

05-03

Ficamos três dias no rio pescando. A pesca foi farta, mas nós só comíamos muito pouco uma única vez por dia. Vi que um ou outro guerreiro, com sinal de fome, comia algumas das folhas que encontrava na beirada do rio. A folha era mastigada ao longo do dia todo, sem ser engolida. Somente na hora de deitar ela era cuspida na água do rio. Nesta noite voltamos para a tribo.

06-03

Hoje de manhã foi possível ver que as mulheres já haviam preparado parte da refeição. Tínhamos uma espécie de panqueca feita à base de mandioca, massa úmida, assada. Havia também uma bebida fermentada à base de milho. Não comemos durante toda a manhã. Ficamos na oca, ao redor da fogueira. O pajé fazia um ritual de purificação nos pescadores e as crianças recebiam uma instrução de como pescar. Lá fora uma sentinela andava em círculos ao redor de um grande mastro que sustentava um bocado de comida na ponta. Assim que o sol chegou na posição de meio-dia, o sentinela entrou na oca, cochichou no ouvido da mulher mais velha da tribo. Ela saiu, voltou em seguida convidando todos para o banquete. As moças da tribo iniciaram a repartição da comida. Primeiro comeram as mulheres grávidas, depois todos foram servidos igualmente.

...

20-03

Hoje aconteceu algo curioso. O pajé e o chefe da tribo, o pai mais velho, foram até a plantação de milho e mandioca e passaram parte da manhã por lá. Quando voltaram, conversaram com a mulher mais velha e, logo em seguida, um grupo de mulheres, acompanhadas por dois rapazotes, foram para a plantação. Este ritual se sucedeu durante uns dez dias. Percebi que os rapazotes não trabalhavam na plantação, mas não conversavam entre si. Estavam atentos a tudo o que as mulheres faziam e, como se estivessem em uma sala de aula, tinham que repetir o que elas lhes explicavam.

...

10-04

Mudança de lua. Hoje, ao cair da tarde, o chefe da tribo e o pajé saíram com um grupo de rapazes. Era a mudança da lua. Nesta noite aquele grupo de rapazes ia trocar de nome. Depois de um longo período de preparação, cada um deles ia receber um nome novo de acordo com as habilidades desenvolvidas no período de treinamento. Naquela noite seriam escolhidos os guerreiros, o novo sentinela, que era também o aprendiz do pajé, e um grupo de seis rapazes que, depois daquela noite, deveriam mostrar para a tribo qual deles seriam o melhor para suceder o chefe da tribo. Estes seis rapazes eram também aqueles que iriam receber a autorização para se casar. A última prova para poder se tornar um dia o chefe da tribo era saber ser pai da tribo. Cada homem que se casava tinha que demonstrar saber ser pai de seus filhos e de todas as crianças da tribo. Isto me explicava porque as crianças eram sempre atendidas por qualquer um dos pais da tribo, sobretudo quando era hora de brincar ou aprender alguma dança ou habilidade de tribo. A votação do novo chefe, não era só por ser o pai mais velho da tribo. Cada voto era contado dia após dia, e o trato com as crianças era a prova mais forte do espírito de liderança do novo chefe.

 

1 - Com base na leitura das “Anotações fictícias de campo - Tribo Pataós - 1976” e do texto sobre o Funcionalismo, responda: como a Tribo Tapaós se organiza para satisfazer suas necessidades? Use os espaços indicados abaixo para sua resposta.

 

a - necessidades primárias ou biológicas:

 

 

 

 

 

b - necessidades derivadas ou instrumentais:

 

 

 

 

 

c - necessidades integrativas ou sintéticas:

 

 

 

 

 

2 - Com base na leitura das “Anotações fictícias de campo - Tribo Pataós - 1976” e do texto sobre o Estruturalismo, responda: como podem ser percebidos alguns dos possíveis modelos estruturais da Tribo Tapaós? Use os espaços indicados abaixo para sua resposta.

 

a - modelo político / liderança:

 

 

 

 

 

b - modelo econômico / sobrevivência:

 

 

 

 

 

c - modelo hierarquia social:

 

 

 

 

 

3 - Quais status sociais podem ser percebidos nas “Anotações fictícias de campo - Tribo Pataós - 1976”?

 

 

 

 

 

4 - Segundo Marconi e Presotto (2005, p. 257), Leslie White vê o funcionalismo da seguinte forma: “[...] as sociedades humanas e suas respectivas culturas existem como todos orgânicos, constituídos de partes interdependentes”. De que maneira esta característica do funcionalismo pode ser percebida numa empresa?

(   ) - Cada indivíduo realiza sua tarefa em um setor sem se preocupar com outros setores.

(   ) - O mercado faz com que a empresa seja independente dos objetivos de seus colaboradores.

(   ) - As pessoas seguem as mesmas regras ditadas pela economia capitalista.

(   ) - Os diversos setores executam suas tarefas e colaboram entre si por um objetivo comum.

 

5 - Segundo Marconi e Presotto (2005, p. 257), baseado em que raciocínio Malinowski afirma que os seres humanos”[...] só poderão sobreviver quando suas necessidades biológicas forem satisfeitas pelas culturas de que participam”?

(   ) - Baseado no raciocínio de que os seres humanos foram criados por Deus.

(   ) - Baseado no raciocínio de que os seres humanos pertencem a uma espécie animal.

(   ) - Baseado no raciocínio de que os seres humanos cooperam após momentos de guerra.

(   ) - Baseado no raciocínio de que os seres humanos imitam os animais.

 

6 - Segundo Marconi e Presotto (2005), a visão sincrônica da cultura é acompanhar os fatos culturais no momento em que acontecem. Esta abordagem da realidade poderia ser aplicada por um gestor a um ambiente de trabalho de que maneira?

(   ) - Acompanhando o desenvolvimento do processo juntamente com as pessoas que o realizam.

(   ) - Desenvolvendo um sistema de relatórios mais funcionam para coletar resultados.

(   ) - Observando os processos de produção através de encarregados de setores confiáveis e capacitados.

(   ) - Implantando um sistema de coleta de informações em tempo real a partir dos resultados produzidos.

 

7 - Segundo Marconi e Presotto (2005), o estruturalismo pode ser comparado ao funcionalismo da seguinte maneira:

(   ) - O estruturalismo é mais moderno que o funcionalismo e conta com uma maneira diferente de registrar as informações sobre a cultura.

(   ) - O estruturalismo se aplica somente ao estudo de grupos pequenos cuja cultura seja mais fácil de ser analisada.

(   ) - O estruturalismo se preocupa mais com a elaboração de análise sobre o fato como forma de compreender melhor a cultura.

(   ) - O estruturalismo não tem diferença do funcionalismo, pois os dois analisam a cultura humana da mesma forma.

 

8 - Segundo Marconi e Presotto (2005, p. 264), o estruturalismo proposto por Levi-Strauss leva em conta que “[...] o objeto de estudo das pesquisas estruturais são as relações sociais com o auxílio de modelos”. De que maneira esta visão estruturalista pode ajudara entender a dinâmica das relações sociais dentro do ambiente de trabalho?

(   ) - A empresa já organiza seu ambiente de trabalho seguindo um padrão de comportamento para todos os indivíduos.

(   ) - Os modelos podem ajudar a entender a estrutura de funcionamento das relações sociais do grupo.

(   ) - Alguns locais de trabalho seguem manuais de relações sociais e os indivíduos seguem estes manuais de conduta.

(   ) - As empresas treinam os trabalhadores a repetirem modelos próprios nos locais de trabalho.

 

9 - Segundo Marconi e Presotto (2005), a visão estruturalista de Levi-Strauss classifica as sociedades em culturas quentes e frias. A realidade que vivemos em cidades do porte de São Sebastião do Paraíso poderia ser classificada como:

(   ) - Cultura fria, pois estes tipos de cidades são primitivas e resistentes a mudanças.

(   ) - Cultura quente, pois são cidades complexas e marcadas pela civilização e indústria.

(   ) - Cultura fria, pois são cidades seguem aquela que têm padrões com este tipo de clima.

(   ) - Cultura quente, pois as interferências do clima tropical afetam a cultura destas cidades.

 

 

 

 

 

 


Trabalho de Antropologia - “A formação do Povo Brasileiro”

 

Orientações para trabalho de Antropologia - “A formação do Povo Brasileiro”

 

Disciplina: Antropologia                  

 

Descrição do trabalho: atividade em grupo sobre a “Formação do Povo Brasileiro”

 

Objetivo: analisar a contribuição das diversas fontes culturais que contribuíram para a formação do povo brasileiro

 

Dinâmica de trabalho:

- a atividade a ser realizada em duplas ou trios;

            - 1º- cada grupo deverá assistir o vídeo correspondente ao seu trabalho, que está disponível no YouTube;

- 2º - analisar o tema estudado a partir das seguintes questões:

- Qual é a característica da matriz estudada?

- Qual a contribuição / herança que esta matriz deu à formação do povo brasileiro?

- Conclusão - apreciação

- 3º - preparar uma apresentação do tema para a sala (slides, cartaz, apresentação oral etc.);

 

 

Divisão dos temas do trabalho:

 

Cap. 1 - Matriz Tupi

Cap. 2 - Mariz Lusa

Cap. 3 - Matriz Afro

Cap. 4 - Encontros e desencontros

Cap. 5 - O Brasil Crioulo

Cap. 6 - O Brasil Sertanejo

Cap. 7 - O Brasil Caipira

Cap. 8 - O Brasil Sulino

Cap. 9 - O Brasil Caboclo

 

Referência bibliográfica:

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. Rio de Janeiro: Companhia do Bolso, 1995.

 

No YouTube, link com os capítulos separados:

https://www.youtube.com/watch?v=Dmi0Jn_9sPA&list=PLjHmQpe56BuI4KCZZzCETWKT5afqFL-lo

 

Ou procurar por: o povo brasileiro darcy ribeiro

Trabalho com o filme: O Elo Perdido (Man to Man)

 Disciplina: Antropologia / Antropologia Filos. e Social           

 

Descrição do trabalho: atividade em grupo

 

Objetivos: - analisar o método da antropologia do séculos XIX na pesquisa sobre o gênero humano;

                    - definir, a partir do filem assistido, os critérios usados para identificar a condição humana dos dois pigmeus;

 

Dinâmica de trabalho: a atividade foi planejada para ser realizada em quatro momentos:

                - 1º - apresentação dos critérios metodológicos da antropologia do século XIX;

                - 2º - assistência ao filme “Elo perdido”

                - 3º - reflexão e análise do filme de acordo com roteiro oferecido;

                - 4º - confecção e entrega de relatório;

 

Observação: o trabalho poderá ser realizado em grupos com dois ou três alunos exclusivamente;

 

Roteiro para realização do trabalho:

 

1 - Qual a pretensão dos antropólogos ao capturar pigmeus e levá-los para Edimburbo?

2 - Que fatos levam o médico Jamie Dodd a duvidar sobre a animalidade/humanidade dos pigmeus?

3 - Quais os critérios usados por ele para argumentar que os dois pigmeus eram também humanos?

4 - Que cenas do filme podem ilustrar a metodologia científica de observação, experimentação e controle?

5 - Qual a conclusão pessoal dos elementos do grupo? - Cada deverá escrever no mínimo um parágrafo explicando como entendeu a relação entre o antropólogo e os pigmeus (sujeito - objeto) no filme.

 

Ficha técnica do filme: O Elo Perdido (Man to Man)

Elenco: Joseph Fiennes, Kristin Scott Thomas, Iain Glen, Hugh Bonneville, Cécile Bayiha, Flora Montgomery.

Direção: Regis Wargnier

Gênero: Drama

Distribuidora: Imagem Filmes

Estreia: 16 de Dezembro de 2005

 

Sinopse: Na promissora Edimburgo de 1879, o jovem médico escocês Jamie Dodd (Joseph Fiennes, de Shakespeare Apaixonado) se aventura pela inexplorada África Equatorial na companhia da aventureira Elena Van Den End (Kristin Scott Thomas, de O Paciente Inglês) para capturar pigmeus.

De volta à cidade na companhia de Toko (Lomama Boseki) e Likola (Cécile Bayiha), o médico desentende-se com seus dois colegas de pesquisa, determinados a provar o elo perdido da espécie humana, quando defende que o casal de pigmeus demonstra inteligência e sentimentos humanos. Vítima da segregação dos amigos, do escárnio da comunidade científica e da crueldade humana, Jamie vê seus amigos pigmeus serem expostos no zoológico local e submetidos, como ele próprio, à mais injusta humilhação.

A solidariedade que vai reuni-los será de laços muito fortes, os laços da própria humanidade. Uma aventura antropológica do cineasta francês Régis Wargnier em busca do O Elo Perdido dos valores mais nobres do ser humano. Filme de abertura do Festival de Berlim em 2005.

 

Curiosidades:

» O diretor Régis Wargnier é um dos mais conceituados cineastas franceses, vencedor do Oscar de Filme em Língua Estrangeira com Indochina (1992).

» Os zoológicos humanos mencionados no filme são fatos reais que proliferaram na Europa no século 19, pesquisados pelo diretor.

» As seqüências da expedição de caça aos pigmeus foram gravadas nas florestas ainda preservadas da África do Sul, o que garante a exuberância visual da produção.

Disponível em: http://www.cinepop.com.br/filmes/eloperdido.htm. Acesso em: 31 mar. 2009.

DRUCKER, Peter F. Um era de descontinuidade - A organização como oportunidade para o indivíduo

 

DRUCKER

Área: sociologia das organizações;

Tema(s): organizações; indivíduo e realização; antropologia;

 

DRUCKER, Peter F. Um era de descontinuidade: orientações para uma sociedade em mudança. 3. ed. Tradução de J. R. Brandão Azevedo. Rio de janeiro: Zahar, 1976, p. 291-294. “Como pode o indivíduo sobreviver? - A organização como oportunidade para o indivíduo”

 

 

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A organização como oportunidade para o indivíduo

 

Até este ponto, estivemos examinando o que os alemães costumavam denominar a Rechtsstaat: uma sociedade política na qual o indivíduo esteja protegido contra o abuso do poder por parte da autoridade. Estivemos examinando a possibilidade de oferecer ao indivíduo a garantia de que ele não será aniquilado pela organização, um “parque nacional” exterior a ela, por assim dizer, em que ele não será molestado em seu “habitat natural”.

 

Mas essa garantia contra o abuso do poder não é o suficien­te para uma sociedade livre. Uma sociedade livre se assenta na liberdade de tomar decisões responsáveis.

 

A organização moderna liberta o indivíduo do ambiente es­treito e rigidamente restrito da tribo, da aldeia e da pequena ci­dade. É a organização moderna que está criando as oportuni­dades para que as pessoas educadas ponham em prática seus co­nhecimentos e sejam recompensadas por isso - e muito bem re­compensadas. Mas esses benefícios impõem ao indivíduo o peso da decisão. Impõem-lhe a responsabilidade pelo que ele quer ser e por seus desejos de progresso.

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Também lhe impõem responsabilidade pelo que deve ser e tornar-se a organização. O que o indivíduo deve, então, exigir da organização? E o que ele próprio terá de fazer a fim de conseguir que seus objetivos sejam realizados pela organização? Teremos de aprender a exigir que a organização ofereça status e função ao indivíduo. * Mas teremos de exigir de nós mesmos que aprendamos a utilizar a organização como uma oportunida­de para nossas próprias conquistas e realizações.

 

Os jovens têm razão quando protestam contra a tendência que as organizações manifestam de considerar um indivíduo co­mo um instrumento. Mas não têm razão quando as culpam por isso. Nunca indagaram a si próprios: “Como posso conseguir que meus fins e minhas necessidades sejam satisfeitos por esta ou aquela organização?” “Como posso conseguir que ela me faça agir, realizar, contribuir?”.

 

Compreende-se que os jovens se rebelem contra o fa­to de serem considerados como “insumos” pelo computa­dor. Mas as demonstrações engenhosas em que eles se fan­tasiam de cartões perfurados e marcham com o lema: “Não dobre, não rasgue, não enrole” não vêm ao caso. É para isso que os cartões existem. A questão é: “Como pode­mos usar o computador e seus cartões como meios para os fins dos indivíduos?” Para isso é preciso que se entenda um pouco mais o computador - se bem que não muito mais do que o fato de que é sempre possível desligar a tomada e interromper seu funcionamento (algo que os mi­tos ricos em imaginação, relativos à subida dos computa­dores ao poder no mundo inteiro, tendem a desconsiderar). Percebe-se então imediatamente que o computador, para os que entendem alguma coisa sobre seu funciona­mento, é a emancipação do indivíduo. O objetivo do com­putador é permitir-nos não perder tempo com “controles”, mas empregá-lo em atividades que demandam percepção, imaginação, relações humanas e criatividade - atividades em que os jovens rebeldes declaram acreditar.

 

Este é apenas um exemplo. A organização moderna exige que o indivíduo aprenda algo que ele nunca foi capaz de fazer

 

* Sobre isto veja meu livro The New Society (William Heinemann Ltd., Londres, 1951; Harper & Row, Nova York, 1950).

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até agora: usar a organização inteligentemente, objetivando a certos fins, deliberada mente e de modo responsável. Se ele se esquivar deste dever e das decisões a ele relacionadas, a organização certamente se tornará o senhor. Se o indivíduo aceitar esta responsabilidade, será livre e exercerá controle.

 

As próprias organizações só percebem obscuramente este fato. No entanto, atualmente discutimos cada vez mais acerca da organização “livre” como sendo a única adequada ao trabalho baseado no conhecimento - na empresa, bem como nas forças armadas, na universidade e no serviço público. Trata-se de uma organização em que a disciplina fica por conta do indivíduo. O controle não é exercido pela hierarquia, mas pela tarefa. Para os que acreditam que o verdadeiro amor consiste em ser promíscuo (como os muito jovens sempre têm estado inclinados a acreditar), trata-se ainda, obviamente, de uma “restrição”. Entretan­to, na verdade reflete responsabilidade.

 

Fazer da sociedade de organizações uma sociedade livre re­quer a aceitação da responsabilidade pelo indivíduo, acima de tu­do a aceitação da responsabilidade pela contribuição - para si mesmo e para a organização. Isso é assustador, e não só para os jovens. Mas não é particularmente novo. Sempre soubemos que a liberdade implica responsabilidade, e não licencio­sidade.

 

Os jovens da sociedade de organizações precisam ser infor­mados sistematicamente sobre como fazer que a organiza­ção sirva aos objetivos que eles próprios estabeleceram como seus, a seus próprios valores e aspirações. Terão de aprender or­ganização da mesma forma que seus antepassados aprenderam o cultivo dos campos. É característica de uma pessoa madura a pergunta: “O que desejo da vida” - e a consciência de que só se colhe o que se semeia. Amanhã, será característica de uma pessoa livre a pergunta: “O que quero das organizações?” - e a consciência de que só conseguirá aquilo para o que se esforçou.

***

Para que consigamos que nossa sociedade funcione é preciso que saibamos administrar, i. e., como conseguir desempenho organizacional através do trabalho do indivíduo. A fim de que nossa sociedade possa ser livre será necessário, ainda, que o in­divíduo aprenda a administrar a organização - como fazer

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que seus objetivos, seus valores, seu desejo de realização sejam satisfeitos pela organização e por seu funcionamento.

 

Uma sociedade precisa ser capaz de permitir que o indiví­duo opte por abandoná-la· e “se dedicar à vida privada”. Mas isso não é liberdade. É indiferença. Numa sociedade livre, o cidadão assume a responsabilidade, antes de mais nada, por sua sociedade e por suas instituições. Na sociedade de organizações, a sociedade pluralista de nossa época, essa. tarefa difere da do século XVIII. A tradição política do século XVIII, a tradição de Locke, está claramente chegando ao fim. Mas a sociedade de organizações pode oferecer maiores oportunidades de liberda­de responsável, plena de sentido e efetiva do que as sociedades passadas. Se elas serão concretizadas ou não depende do que nós fizermos e não do que "elas", as instituições, fizerem.

 

Defrontamo-nos com um período de considerações novas e bastante complicadas sobre a estrutura política da sociedade e sobre a posição e o papel do indivíduo nela. O que temos até agora é um novo pluralismo, uma nova sociedade de organiza­ções. O que ainda nos falta é um novo individualismo, uma no­va responsabilidade.

 

LAPLANTINE, François. Aprender antropologia - Os pais fundadores da antropologia - Boas e Malinowski

 

LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. Tradução Marie-Agnès Chauvel; prefácio Maria Isaura Pereira de Queiroz. São Paulo: Brasiliense, 2007. (Clefs pour L’antrhopologie 1988).

 

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4 . Os pais fundadores da antropologia - Boas e Malinowski

 

Se existiam no final do século XIX homens (geralmente missionários e administradores) que possuíram um excelente conhecimento das populações no meio das quais viviam - é o caso de Codrington, que publica em 1891 uma obra sobre os melanésios, de Spencer e Gillen, que relatam em 1899 suas observações sobre os aborígines australianos, ou de Junod, que escreve A vida de uma Tribo Sul-africana (1898) - a etnografia propriamente dia só começa a existir a partir do momento no qual se percebe que o pesquisador deve ele mesmo efetuar no campo sua pesquisa, e que esse trabalho de observação direta é parte integrante da pesquisa.

 

A revolução que ocorrerá da nossa disciplina durante o primeiro terço do século XX é considerável: ela põe fim à repartição das tarefas, até então habitualmente entre o observador (viajante, missionário, administrador) entregue ao papel subalterno de provedor de informações e o pesquisador erudito, que, tendo permanecido na metrópole, recebe, analisa e interpreta - atividade nobre! - essas informações. O pesquisador compreende a partir desse mo-

 

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-mento que ele deve deixar seu gabinete de trabalho para ir compartilhar a intimidade dos que devem ser considerados não mais como informadores a serem questionados, e sim como hóspedes que o recebem " e mestres que o ensinam. Ele aprende então, como aluno atento, não apenas a viver entre eles, mas a viver como eles, a falar sua língua e a pensar nessa língua, a sentir suas próprias emoções dentro dele mesmo. Trata-se, como podemos ver, de condições' de estudo radicalmente diferentes das que conheciam o viajante do século XVI II e até o missionário ou o administrador do século XIX. residindo geralmente fora da sociedade indígena e obtendo informações por intermédio de tradutores e infor­madores: este último termo merece ser repetido. Em suma, a antropologia se torna pela primeira vez ut11a atividade ao ar livre, levada. como ;diz Malinowski, "ao vivo", em uma "natureza imensa, virgem e aberta".

 

Esse trabalho de campo, como o chamamos ainda hoje, longe de ser visto como um modo de conhecimento secundário servindo para ilustrar uma tese, é considerado como a própria fonte de pesquisa. Orientou a partir desse momento a abordagem da nova geração de etnólogos que, desde os primeiros anos do século XX. realizou estadias prolongadas entre as populações do mundo inteiro. Em 1906 e 1908, Radc1iffe-Browl1 estuda os habitantes das ilhas Andaman. Em 1909 e 1910. Seligman dirige uma missão no Sudão. Alguns anos mais tarde, Malinowski volta para a Grã-Breta­nha, impregnado do pensamento e dos sistemas de valores que lhe revelou a população de um minúsculo arquipélago melanésio. A partir daí, as missões de pesquisas etnográficas e a publicação das obras que delas resultam se seguem em um ritmo ininterrupto. Em 1901, Rivers, um dos fundado­res da antropologia inglesa, estuda os Todas da Índia; após a Primeira Guerra Mundial, Evans-Pritchard estuda os Azandés (trad. franco 1972) e os Nuer (trad. franco 1968); Nadel, os Nupes da Nigéria; Fortes, os Tallensi; Margaret Mead, os insulares da Nova Guiné. etc.

 

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Como não é possível examinar, dentro dos limites trabalho, a contribuição desses diferentes pesquisadores na elaboração da etnografia e da etnologia contemporânea, dois entre eles, a meu ver os mais importantes, deterão nossa atenção: um americano de origem alemã: Franz Boas; o outro, polonês naturalizado inglês: Bronislaw Malinowski.

 

Boas (1858-1942)

 

Com ele assistimos a uma verdadeira virada da prática antropológica. Boas era antes de tudo um homem de campo. Suas pesquisas, totalmente pioneiras, iniciadas, notamo-lo, a partir dos últimos anos do século XIX (em particular entre os Kwakiutl e os Chinook de Colúmbia Britânica), eram conduzidas de um ponto de vista que hoje qualificaríamos de microssociológico. No campo, ensina Boas, tudo deve ser anotado: desde os materiais constitutivos das casas até as notas das melodias cantadas pelos Esquimós, e isso detalhadamente, e no detalhe do detalhe. Tudo deve ser objeto da descrição mais meticulosa, da retranscrição mais fiel (por exemplo, as diferentes versões de um mito, ou diversos ingredientes entrando na composição de um alimento).

 

Por outro lado, enquanto raramente antes dele as sociedades tinham sido realmente consideradas em si e para si mesmas, cada uma dentre elas adquire o estatuto de uma totalidade autônoma. O primeiro a formular com seus colaboradores (cf. em particular Lowie, 1971) radical e mais elaborada das noções de origem e de reconstituição dos estágios[1], ele mostra que um costume só tem significação se for relacionado ao contexto particular no

 

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qual se inscreve. Claro, Morgan e, muito antes dele, Montes­quieu tinham aberto o caminho a essa pesquisa cujo objeto é a totalidade das relações sociais e dos elementos que a constituem. Mas a diferença é que, a partir de Boas, estimas­se que para compreender o lugar particular ocupado por esse costume não se pode mais confiar nos investigadores e, muito menos nos que, da "metrópole", confiam neles. Ape­nas o antropólogo pode elaborar uma monografia, isto é, dar conta cientificamente de uma microssociedade, apreen­dida em sua totalidade e considerada em sua autonomia teórica. Pela primeira vez, o teórico e o observador estão finalmente reunidos. Assistimos ao nascimento de uma ver­dadeira etnografia profissional que não se contenta mais em coletar materiais à maneira dos antiquários, mas procura detectar o que faz a unidade da cultura que se expressa através desses diferentes materiais.

 

Por outro lado, Boas considera, e isso muito antes de Griaule, do qual falaremos mais adiante, que não há objeto nobre nem objeto indigno da ciência. As piadas de um con­tador são tão importantes quanto a mitologia que expressa o patrimônio metafísico do grupo. Em especial, a maneira pela qual as sociedades tradicionais, na voz dos mais humil­des entre eles, classificam suas atividades mentais e sociais, deve ser levada em consideração. Boas anuncia assim a cons­tituição do que hoje chamamos de "etnociências".

 

Finalmente, ele foi um dos primeiros a nos mostrar não apenas a  importância, mas também a necessidade, para o etnólogo, do acesso à língua da cultura na qual trabalha. As tradições que estuda não poderiam ser-lhe traduzidas. Ele próprio deve recolhê-las na língua de seus interlocutores[2].

 

Pode parecer surpreendente, levando em conta o que foi dito, que Boas, exceto entre os profissionais da antropo­logia, seja praticamente desconhecido. Isso se deve princi­palmente a duas razões:

 

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1) multiplicando as comunicações e os artigos, ele nunca escreveu nenhum livro destinado ao público erudito, e os textos que nos deixou são de uma concisão e de um rigor ascético. Nada que anuncie, por exemplo, a emoção que se pode sentir (como veremos logo) na leitura de um Malinowski; ou que lembre o charme ultrapassado da prosa enfeitada de um Frazer;

 

2) nunca formulou uma verdadeira teoria, tão estranho era-lhe o espírito de sistema; e a generalização apressada parecia-lhe o que há de mais distante do espírito científico. Às ambições dos primeiros tempos - quero falar dos afres­cos gigantescos do século XIX, que retratam os primórdios da humanidade mas expressam simultaneamente os primórdios da antropologia, isto é uma antropologia principalmente - sucedem, com ele, a modéstia e a sobriedade.

 

De qualquer modo, a influência de Boas foi considerável. Foi um dos primeiros etnógrafos. À sua preocupação de precisão da descrição dos fatos observados, acrescentava-se a de conservação metódica do patrimônio recolhido (foi conservador do museu de Nova Iorque). Finalmente, foi, enquanto professor, o grande pedagogo que formou a primeira geração de antropólogos americanos (Kroeber, Lowie, Sapir, Herskovitz, Linton... e, em seguida, R. Benedict, M. Mead). Ele permanece sendo o mestre incontestado da antropologia americana na primeira metade do século XX.

 

Malinowski (1884 - 1942)

 

Malinowski dominou incontestavelmente a cena antropológica, de 1922, ano de publicação de sua primeira obra, Os Argonautas do Pacífico Ocidental, até sua morte, em 1942.

 

1) Se não foi o primeiro a conduzir cientificamente uma experiência etnográfica, isto é, em primeiro lugar, a

 

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viver com as populações que estudava e a recolher seus ma­teriais de seus idiomas, radicalizou essa compreensão por dentro, e -para isso, procurou romper ao máximo os contatos com o mundo europeu.

 

Ninguém antes dele tinha se esforçado em penetrar tan­to, como ele fez no decorrer de duas estadias sucessivas nas ilhas Trobriand, na mentalidade dos outros, e em compreen­der de dentro, por uma verdadeira busca de despersonaliza­ção, o que sentem os homens e as mulheres que pertencem a uma cultura que não é nossa. Boas procurava estabelecer repertórios exaustivos, e muitos entre seus seguidores nos Estados Unidos (Kroeber, Murdock...) procuraram definir correlações entre o maior número possível de variáveis. Ma­linowski considera esse trabalho uma aberração. Convém pelo contrário, segundo ele, conforme o primeiro exemplo que dá em seu primeiro livro, mostrar que a partir de um único costume, ou mesmo de um único objeto (por exemplo, a canoa trobriandesa - voltaremos a isso) aparentemente muito simples, aparece o perfil do conjunto de uma sociedade.

 

2) Instaurando uma ruptura com a história conjetural (a reconstituição especulativa dos estágios), e também com a geografia especulativa (a teoria difusionista, que tende, no início do século, a ocupar o lugar do evolucionismo, e pos­tula a existência de centros de difusão da cultura, a qual se transmite por empréstimos), Malinowski considera que uma sociedade deve ser estudada enquanto uma totalidade, tal como funciona no momento mesmo onde a observamos. Me­dimos o caminho percorrido desde Frazer, que foi no entanto o mestre de Malinowski. Quando perguntávamos ao primeiro por que ele próprio não ia observar as sociedades a partir das quais tinha construído sua obra, respondia: "Deus: me livre!". Os Argonautas do Pacífico Ocidental, embora tenha sido editado alguns anos apenas após o fim da publicação de O Ramo de Ouro, com um prefácio, notamo-lo, do próprio Frazer. adota uma abordagem rigorosamente inversa: anali­sar de uma forma intensiva e contínua uma microssociedade

 

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sem referir-se a sua história. Enquanto Frazer procurava res­ponder à pergunta: "Como nossa sociedade chegou a se tornar o que é?"; e respondia escrevendo essa "obra épica da humanidade" que é O Ramo de Ouro, Malinowski se pergunta o que é uma sociedade dada em si mesma e o que a torna viável para os que a ela pertencem, observando-a no presente através da interação dos aspectos que a constituem.

 

Com Malinowski, a antropologia se torna uma "ciência" da alteridade que vira as costas ao empreendimento evolu­cionista de reconstituição das origens da civilização, e se dedica ao estudo das lógicas particulares características de cada cultura. O que o leitor aprende ao ler Os Argonautas é que os costumes dos Trobriandeses, tão profundamente diferentes dos nossos, têm uma significação e uma coerência. Não são puerilidades que testemunham de alguns vestígios da humanidade, e sim sistemas lógicos perfeitamente elabo­rados. Hoje, todos os etnólogos estão convencidos de que as sociedades diferentes da nossa são sociedades humanas tanto quanto a nossa, que os homens e mulheres que nelas vivem são adultos que se comportam diferentemente de nós, e não "primitivos", autômatos atrasados (em todos os sentidos do termo) que pararam em uma época distante e vivem presos a tradições estúpidas. Mas nos anos 20 isso era propriamente revolucionário.

 

3) A fim de pensar essa coerência interna, Malinowski elabora uma teoria (o funcionalismo) que tira seu modelo das ciências da natureza: o indivíduo sente um certo número de necessidades, e cada cultura tem precisamente como fun­ção a de satisfazer à sua maneira essas necessidades funda­mentais. Cada uma realiza isso elaborando instituições (eco­nômicas, políticas, jurídicas, educativas...), fornecendo res­postas coletivas organizadas, que constituem, cada uma a seu modo, soluções originais que permitem atender a essas necessidades.

 

 



[1] Da qual Radcliffe·Brown e Malinowski tirarão as consequências teóricas: não é mais possível opor sociedades "simples" e “complexas", sociedades "inferiores" evoluindo para o “superior", sociedades "primitivas" a caminho da “civilização". As primeiras não são formas de organizações originais das quais as segundas teriam derivado.

[2] Sobre a relação da cultura, da língua e do etnólogo, cf. particular­mente, após Boas, Sapir (1967) e Leenhardt (1946).