ALGUMAS DIFERENÇAS GRAMATICAIS ENTRE A LÍNGUA PORTUGUESA E A LIBRAS[1]
APRESENTAÇÃO
Neste texto apresentamos uma breve
reflexão de algumas das diferenças entre a Língua Portuguesa e a Língua
Brasileira de Sinais.
Ao comparar alguns elementos
constitutivos destas duas línguas podemos perceber a riqueza de cada uma delas
e como ambas se instrumentalizam para alcançar o objetivo de dizer o mundo e
inserir o falante dentro dele.
Para os indivíduos que falam
línguas diferentes, a experiência de aprender a se comunicar na língua do outro
é garantia não só de aprender uma nova forma de ver o mundo, mas também uma
nova forma de se manifestar no mundo e de enriquecer a própria forma de uso e
comunicação em sua língua materna.
1 QUADRO COMPARATIVO: LÍNGUA PORTUGUESA E
LIBRAS
Quadro com as principais
diferenças entre a estrutura da Língua Portuguesa e da Libras:
Características
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Língua Portuguesa
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Libras
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FONOLOGIA
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- Elementos mínimos: fonemas.
- Pode ser verbal, não verbal, visual,
auditiva.
- Elementos mínimos processados
linearmente, horizontalmente e no tempo (PEDROSO; ROCHA, 2013, pp. 165-166).
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- Unidades mínimas:
1) Configuração de mãos (CM).
2) Ponto de articulação (PA) ou
localização da mão.
3) Movimento (M).
4) Orientação da mão (OR).
5) Aspectos não manuais dos
sinais (NM) – expressões faciais e corporais. (PEDROSO; ROCHA, 2013, pp. 165-166).
- As línguas de sinais são
visual-espaciais (ou espaço-visual), pois a informação linguística é
recebida pelos olhos e produzida pelas mãos. (QUADROS; KARNOPP, 2004 apud PEDROSO; ROCHA, 2013, p. 166).
- Os
elementos mínimos constituintes da língua de sinais são processados simultaneamente
e não linearmente como ocorre na língua oral. (QUADROS; KARNOPP, 2004 apud PEDROSO; ROCHA, 2013, p. 166).
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MORFOLOGIA
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- Elementos próprios: entonação
vocal, expressão facial, expressão corporal, recursos
não verbais, elementos performáticos (humor, sarcasmo, etc.).
- Nas
línguas orais, as palavras complexas são, muitas vezes, formadas pela adição
de um prefixo ou sufixo a uma raiz. Já nas línguas de sinais, essas formas
resultam, frequentemente, de processos não concatenativos, em que uma raiz é
enriquecida com vários movimentos e contornos no espaço de sinalização
(KLIMA; BELLUGI, 1979), como por exemplo, os sinais "árvore" e
"paquerar" (PEDROSO; ROCHA, 2013, p. 176).
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- As
línguas de sinais, como línguas visual-espaciais, apresentam elementos próprios,
como expressão facial, expressão corporal, movimento, velocidade e direção,
que, incorporados ao sinal, garantem a mesma riqueza de expressão que as
línguas orais (PEDROSO; ROCHA, 2013, p. 163).
- Alguns
morfemas, por si sós, constituem palavras, outros nunca formam palavras,
apenas constituem partes delas. Nesse caso, temos os morfemas presos, que são os sufixos e os prefixos, uma vez que
não podem ocorrer isoladamente. Têm-se, também, os morfemas livres que constituem palavras (PEDROSO; ROCHA,
2013, p. 175).
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SINTAXE
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- Sintaxe predominante de ordem
direta: sujeito + verbo + complemento.
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- Vejamos
um exemplo: em português sinalizado, ou seja, utilizando-se os sinais na
estrutura da Língua Portuguesa, se diz: "Eu comi pizza ontem.",
com quatro sinais – um sinal para cada palavra e nessa sequência. Em Libras,
a mesma ideia é expressa da seguinte maneira: "Pizza comi ontem",
com três sinais e nessa sequência (PEDROSO; ROCHA, 2013, p. 160).
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LÉXICO
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- Léxico baseado numa língua raiz
e em empréstimos interlinguísticos.
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- Conforme já apresentado anteriormente,
a língua de sinais permite ao surdo conversar e refletir sobre qualquer assunto. - o que supõe
riqueza lexical (PEDROSO; ROCHA, 2013, p. 161).
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GRAMÁTICA
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- Gramática construída a partir
de categorias da língua grega, sedimentada com léxico latino.
|
- Para
completar a discussão sobre esse mito, cabe ressaltar que é muito comum as
pessoas, equivocadamente, afirmarem que o empobrecimento estrutural das línguas
de sinais liga-se ao fato de que elas não apresentam, por exemplo, elementos
de ligação, tais como preposições e conjunções. De acordo com Quadros e
Karnopp (2004), essa característica não empobrece a língua de sinais, pois
ela apresenta uma riqueza de expressividade diferente das línguas orais (PEDROSO;
ROCHA, 2013, p. 163).
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SEMÂNTICA
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- Linguagem conotativa e
denotativa.
- Presença de figuras de linguagem
e pensamento.
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- Mito: A língua de sinais é
incapaz de expressar ideias abstratas, humor e sutilezas, como figuras de
linguagem, estando ligada apenas a aspectos concretos (PEDROSO; ROCHA, 2013,
p. 161).
- As línguas de sinais, como
línguas visual-espaciais, apresentam elementos próprios, como expressão
facial, expressão corporal, movimento, velocidade e direção, que,
incorporados ao sinal, garantem a mesma riqueza de expressão que as línguas orais
(PEDROSO; ROCHA, 2013, p. 163).
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2 REFLEXÃO
A seguir apresentamos uma
reflexão a partir de questões sugeridas na disciplina Língua Brasileira de
Sinais - Licenciatura Letras Português/Inglês, Claretiano, 2017.
2.1 Para o ouvinte, ao aprender Libras, qual
aspecto você julga ser mais difícil: os sinais manuais ou os não manuais, como
por exemplo, a interrogação e a negação?
Nosso ponto de vista é que para
aprendiz ouvinte é mais difícil articular de forma simultânea os aspectos não
manuais da Libras. Este gestual requer uma sincronia com o conteúdo da
mensagem, uma vez que os elementos mímicos são processados de forma simultânea
(QUADROS; KARNOPP, 2004 apud PEDROSO; ROCHA,
2013, p. 166). Esta habilidade nos parece mais
difícil de ser apreendida pelo aprendiz ouvinte de libras porque ela não
depende da articulação fonadora a partir da percepção sonora, mas sim da
articulação de expressões facial e corporal articuladas ao sentido da mensagem
e aos demais elementos que compõem a comunicação da linguagem de sinais.
2.2 E em relação à aquisição de uma língua e
o desenvolvimento da linguagem, complemente seu texto, abordando a importância
da Língua de Sinais para o desenvolvimento linguístico, cognitivo e afetivo da
criança surda.
Segundo
Pedroso e Rocha (2013, p. 157), “[...] as línguas de sinais expressam conceitos
abstratos. Sabe-se, hoje, que é possível discutir qualquer assunto em língua de
sinais: política, economia, matemática, física, psicologia, poesia ou
literatura, por exemplo”. Este alcance semântico e comunicacional da língua
de sinais permite que o aprendiz surdo possa desenvolver as habilidades
cognitivas decorrentes do aprendizado de uma língua. Poder discorrer sobre os
mais diversos assuntos em um idioma é uma habilidade que denota o acesso
efetivo aos conteúdos dos assuntos em questão. A capacidade comunicativa da
língua de sinais se equipara, assim, a quaisquer outras línguas.
Segundo
Pedroso e Rocha (2013, p. 158), “A soletração
manual não é uma língua distinta, mas um simples código baseado nas
línguas orais. Assim, nenhum surdo se utiliza apenas da soletração para se
comunicar”. O aprendiz surdo necessita de um aparato variado e diversificado
que vai além das tentativas da língua oral para fazer o surdo “falar”. A
habilidade de comunicação do indivíduo surdo pode até conter minimamente com a
soletração manual, mas sem o arcabouço de outras unidades mínimas da língua de
sinais, este indivíduo não conseguiria se comunicar a partir de sua condição.
2.3 É importante que os ouvintes também aprendam
Libras?
Segundo
Quadros e Karnopp (2004 apud PEDROSO; ROCHA, 2013, p. 157), “[...] apenas 30% dos sinais têm significados
identificáveis com a forma do sinal, ou seja, são icônicos. Portanto, os demais
70% não podem ser reconhecidos na sua representação, o que mostra a necessidade
de que essa língua seja, de fato, aprendida pelos ouvintes”. Neste
sentido, percebemos que se o ouvinte quiser se comunicar com o surdo, aquele
precisará usar a língua de sinais.
O ouvinte não pode pressupor que
a língua falada é superior ou mais complexa, e por isto mais apta, que a língua
de sinais. Ambas possuem gramáticas e complexidade próprias. Seria “[...] um equívoco considerar
que as línguas de sinais são subordinadas às línguas faladas (PEDROSO;
ROCHA, 2013, p. 159)”.
Para os indivíduos que falam
línguas diferentes, a experiência de aprender a se comunicar na língua do outro
é garantia não só de aprender uma nova forma de ver o mundo, mas também uma
nova forma de se manifestar no mundo e de enriquecer a própria forma de uso e
comunicação em sua língua materna.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
PEDROSO, Cristina Cinto Araújo;
ROCHA, Juliana Cardoso de Melo. Língua
brasileira de sinais. Batatais: Claretiano, 2013.
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