terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

DRUCKER, Peter. Uma era de descontinuidade - A economia do conhecimento

DRICKER

Área: sociedade e novas tecnologias, mudanças econômicas e sociais.

Tema(s): A economia do conhecimento; o aparecimento do trabalho com conhecimento.

 

DRUCKER, Peter F. Uma era de descontinuidade: orientações para uma sociedade em mudança. 3. ed. Tradução de J.R. Brandão Azevedo. Rio de Janeiro: Zahar, 1976, pp. 297-322. (Original: The age of discontinuity: guidelines to our changing society - 1969).

 

 

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12. A economia do conhecimento

 

- “As ‘indústrias do conhecimento’[1] que produzem e distribuem idéias e informações, e não bens e serviços, responderam em 1955 por um quarto do Produto Nacional Bruto dos Estados Unidos.”

- “A metade dos dólares ganhos e distribuídos na economia americana serão ganhos pela produção e distribuição de idéias e informações e gastos na busca de idéias e informações.”

- “Há trinta anos, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, os operadores de máquinas semiqualificados, os homens da linha de montagem, eram o centro da mão-de-obra americana. Hoje o centro é o empregado com conhecimento, o homem ou a mulher que aplica ao trabalho produtivo idéias, conceitos e informações, e não habilidade manual ou força muscular.”

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- “Uma vez que o empregado com conhecimento tende a ser muito mais bem pago que o empregado manual, e também a ter muito mais segurança ao emprego, o conhecimento já se tornou o custo central da economia americana. A produtividade do conhecimento já se tornou a chave da produtividade, da capacidade de competição e da realização econômica.”

- “Mas por mais impressionante que seja a estatística, ela não revela o importante. O que importa é que o conhecimento tornou-se o principal ‘fator de produção’ numa economia avançada, desenvolvida.”

- A história econômica dos países avançados e desenvolvidos nos últimos cem anos poderia denominar-se ‘da agricultura para o conhecimento’.  Enquanto que o fazendeiro era a espinha dorsal de qualquer economia há cem anos ou duzentos anos - não só em número de pessoas empregadas, mas também na importância e no valor do que ele produzia - o conhecimento é atualmente o custo principal, o principal investimento e o principal produto da economia avançada e o meio de vida do maior grupo populacional.”

- “O conhecimento é, cada vez mais, o fator-chave do poderio econômico internacional de um país. Cada vez mais ouvimos discussões sobre o ‘êxodo de cientistas e técnicos’ que atrai pes-

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-soal preparado dos países relativamente atrasados no setor do conhecimento para os países de posição avançada neste setor.” [Ex.: profissionais da Europa - Inglaterra... - que vão para os EUA.]

- “Em 1900 o aço era a medida econômica - e sua indústria baseava-se inteiramente na habilidade, e não no conhecimento.”

- “O fundamento da moderna economia passou a ser o ‘conhecimento’, e não a ‘ciência’.”

- “Não há dúvida de que a ciência e os cientistas se transformaram repentinamente nos principais personagens do palco político, mi-

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-litar e econômico. Mas essa transformação estendeu-se também praticamente a todas as outras pessoas com conhecimento.” [Ex.: químicos, geógrafos, matemáticos, antropólogos... com ampliação da área de consultoria].

- “Mas há mais demanda para teólogos do que a maioria das pessoas acredita. De modo geral, é a área de conhecimento excepcional que não está tendo atualmente aplicação prática no comércio e na indústria, no governo e nas forças armadas, no hospital e nas relações internacionais.’

- “Essa demanda, por sua vez, reflete o fato básico de que o conhecimento tornou-se produtivo. A aquisição sistemática e deliberada de informações e sua aplicação sistemática, em lugar da ‘ciência’ ou da ‘tecnologia’, estão-se [sic] transformando no novo fundamento do trabalho, da produtividade e dos esforços em todo o mundo.”

- “A tendência é no mesmo sentido em todos os países industriais avançados. Há uma grande correlação entre a capacidade de crescimento e de competição de uma economia no mundo de hoje e a taxa de crescimento de sua população escolar mais de quinze anos - com os Estados Unidos, o Japão, Israel e a União Soviética nos níveis mais elevados e a Inglaterra nos níveis mais baixos entre as nações industriais desenvolvidas.”

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- A demanda no futuro dos empregados com conhecimento parece insaciável.” [Ex.: programadores, planejadores de sistemas, especialistas em informação, profissionais da área da saúde, todos altamente qualificados e acima do nível da indústria secundária].

- as companhias aéreas se tornarão as principais transportadores de carga e pessoas, e exigirão grande número de profissionais que “Em primeiro lugar, serão capazes de executar toda a operação de manutenção.” e “Em segundo lugar, sua habilidade repousará no conhecimento teórico e no aprendizado formal, e não no aprendizado de uma habilidade. Trabalharão com as mãos, mas aplicarão conhecimento, e não habilidade. Manuais, gráficos e textos serão pelo menos tão importantes para eles quanto os instrumentos são para o artesão.”

- Fundamentos da economia do conhecimento:

- 1 - “O trabalho baseado no conhecimento não provoca um ‘desaparecimento do trabalho’.”

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- “O ‘empregado’ típico da economia avançada, o empregado com conhecimento, está trabalhando cada vez mais, e há uma demanda crescente deles. O trabalhador manual, empregado típico do passado, pode ter mais ociosidade.”

- 2 - “O conhecimento não elimina as habilidades. Pelo contrário, está-se [sic] tornando rapidamente a base da habilidade. Estamos cada vez mais usando o conhecimento a fim de capacitar as pessoas a adquirir habilidades muito avançadas rapidamente e com êxito. O conhecimento sem habilidades é improdutivo.”

- “O conhecimento, quer dizer, a organização sistemática das informações e conceitos, está, portanto, tornando obsoleto o ‘aprendizado prático’.O conhecimento substitui a experiência pelo aprendizado sistemático.”

- “Aprendemos na Segunda Guerra Mundial, em relação às habilidades manuais, que poderíamos condensar anos de aprendizado prático em semanas ou, no máximo, meses, de aprendizado organizado e sistemático.”

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- “O homem ou mulher que tenha alguma vez adquirido habilidade calcada no conhecimento aprendeu a aprender. Pode adquirir rapidamente habilidades novas e diferentes. Diversamente de aprendizado prático, que prepara para uma habilidade específica e ensina o uso de um conjunto específico de instrumentos para um objetivo específico, uma fundamentação no conhecimento capacita as pessoas a desaprender e a reaprender.” - tecnólogos: põem em prática o conhecimento, e não artífices: executam trabalho específico de modo específico;

- exemplo dos sacerdotes egípcios: aliavam conhecimento teórico e prático;

- “O ‘conhecimento’, tal como normalmente é concebido pelo ‘intelectual’, é algo muito diverso do ‘conhecimento’ no contexto de uma ‘economia do conhecimento’ ou do ‘trabalho baseado no conhecimento’. - o conhecimento, para o ‘intelectual’ está no livro e precisa de um agente leitor para torná-lo vivo, aplicável;

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- “Mas o que importa na ‘economia do conhecimento’ é se o conhecimento, novo ou antigo, é aplicável, e. g., a física newtoniana ao programa espacial. O que é relevante é a imaginação e habilidade de quem quer que o aplique, e não a sofisticação ou a novidade da informação.”

- a idéia de aquisição e aplicação sistemática do conhecimento tem uns 200 ou 250 anos: “Ocorreu pela primeira vez aos diversos fabricantes e projetistas ingleses de instrumentos de trabalho do século XVIII e dos primeiros anos do século XIX, que culminaram com a figura altaneira de Joseph Whitworth (1803-87).  - eram grandes inventores “Também procuraram sistematizar o que aprenderam sobre o trabalho mecânico e empregar este conhecimento em seu instrumento. Isso não só levou diretamente à ‘engenharia’, quer dizer, à codificação da maneira correta de executar qualquer tarefa particular. Também modificou o trabalho e a força de trabalho - o verdadeiro começo da Revolução Industrial.”

- de Whitworth as famosas medidas ‘vai/não vai’ - possibilita aos trabalhadores o aprendizado de uma rotina e instrumentaliza-os à produção de acordo com um padrão;

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- “O próximo passo, completamente diferente, foi dado nos Estados Unidos com o Morrill Act de 1862, que estabeleceu uma universidade com terras doadas pelo Governo em todos os estados da União.” - início da pesquisa agrícola e implementação dos modos de produção no campo - a idéia era “... de transformar todas as atividades da fazenda, que eram baseadas na prática, numa disciplina, e de transformar todos os fazendeiros em agrônomos e em tecnólogos sistemáticos.”  - Agricultura Científica;

- resultado a longo prazo: “Um pequeno número de homens altamente treinados, equipados com instrumentos administrativos e mecânicos dispendiosos, produz algo totalmente novo no mundo, os excedentes agrícolas. Isso representa, para a cultura, para a sociedade e para a economia uma mudança muito maior que a maioria das inovações tecnológicas com que nos maravilhamos.”

- “O passo mais importante em direção à ‘economia do conhecimento’ foi, porém, a Administração Científica - quer dizer, a aplicação sistemática da análise e do estudo ao trabalho manual, cujo pioneiro foi Frederick W. Taylor (1856-1915), nas

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últimas décadas do século XIX. Taylor, pela primeira vez na história, considerou que o próprio trabalho merecia a atenção de um homem educado. Até então, o trabalho tinha sido sempre aceito como um fato, especialmente por parte dos preparados. Quando pensavam no problema, sabiam que o trabalho tinha sido ordenado - por Deus ou pela natureza - e que a única maneira de produzir mais era trabalhar mais e mais aplicadamente. Taylor viu que essa crença era falsa. A chave para se produzir mais era ‘trabalhar mais inteligentemente’. A chave da produtividade era o conhecimento, não o suor.”

- “Taylor não partiu (como muitos que nunca leram sua obra acreditam) de idéias de eficiência ou economia, e muito menos do propósito de proporcionar um lucro ao empregador. Partiu de um profundo interesse social e estava profundamente preocupado com o que via como um conflito suicida entre o ‘trabalho’ e o ‘capital’.”

- “Mas, acima de tudo, a Administração Científica de Taylor possibilitou a solução do impasse do século XIX; abriu um ‘terceiro caminho’ entre o capitalismo e o socialismo do século XIX. Provou serem ambos falsos. Porque ambos aceitavam como lei natural o fato de que o bolo econômico era constante, não podendo ser aumentado, exceto pela introdução de mais capital ou pelo trabalho mais intenso.” -

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- 3 - “Mas se bem que o conhecimento não elimine o trabalho ou a habilidade, sua introdução constitui de fato uma verdadeira revolução tanto na produtividade do trabalho quanto na vida do trabalhador.”

- “Talvez seu maior impacto esteja na transformação de uma sociedade de ocupações predeterminadas numa sociedade de escolhas para o indivíduo. Agora é possível ganhar-se a vida - e uma vida satisfatória - fazendo-se quase que qualquer coisa que se queira e aplicando-se quase que qualquer conhecimento. Isso é algo novo sob o sol.”

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- “Há um século, mesmo o homem educado só poderia ganhar a vida pelo conhecimento de umas poucas ‘profissões’ estreitamente circunscritas: clérigo, médico, advogado e professor e, ainda - a mais nova - servidor público (os engenheiros apareceram só no fim do século passado).”

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- “Ao mesmo tempo, o acesso à educação está-se [sic] tornando um direito natural do povo nas sociedades avançadas - e sua ausência, o início do ‘domínio de classe’. É a inexistência do acesso à educação que está atualmente implícito nas referências feitas nos países em desenvolvimento à ‘opressão colonial’ ou ao ‘neocolonialismo’.”

- “No todo, estamos passando rapidamente de uma sociedade na qual as carreiras e as ocupações eram determinadas, i. e., largamente de acordo com o nascimento, para uma sociedade onde está implícita a liberdade de escolha.!

- “O problema hoje não é a ausência de escolha, mas sua abundância. Existem tantas escolhas, tantas oportunidades, tantas direções, que elas desnorteiam e confundem os jovens.”

- “Mas mesmo que uma fartura de escolha possa tornar-se indigesta, o horizonte humano foi ampliado incomensuravelmente.”

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- 4 - “As oportunidades de conhecimento existem basicamente nas grandes organizações. Se bem que a nova orientação em função do trabalho baseado no conhecimento tenha possibilitado as grandes organizações modernas, foi a emergência destas - a empresa, a repartição pública, a grande universidade, o laboratório de pesquisas, o hospital - que, por sua vez, criou as oportunidades de emprego para o empregado com conhecimento.”

- “As oportunidades do conhecimento de ontem eram em grande parte para os profissionais independentes que trabalhavam por conta própria. As oportunidades do conhecimento de hoje são em grande parte para as pessoas que trabalham dentro de uma organização como membros de uma equipe, ou por si mesmas.”

- mesmo que haja o indivíduo que pensa concentrar em si o modo de trabalho, a tendência é para o trabalho em equipes [e para a descentralização - NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, pp.        .]

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- “Conquanto o empregado com conhecimento não seja um ‘operário’, e tampouco um ‘proletário’, ainda é um ‘empregado’. Não é um ‘subordinado’ no sentido de que se possa dizer-lhe o que fazer; pelo contrário, ele é pago para aplicar seu conhecimento, exercer seu julgamento e assumir uma liderança responsável. Contudo, tem um ‘chefe’ - de fato, precisa tê-lo a fim de ser produtivo. E o chefe geralmente não é um especialista na mesma disciplina, mas sim um ‘administrador’ cuja competência específica é planejar, organizar, integrar e avaliar o trabalho do pessoal com conhecimento independentemente de sua disciplina ou área de especialização.”

- “O empregado com conhecimento é, a um só tempo, o verdadeiro ‘capitalista’ da sociedade do conhecimento, e dependente de seu trabalho.”

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- “Mas o empregado com conhecimento considera-se simplesmente com outro ‘profissional’ tal com o advogado, o professor, o padre, o médico ou o servidor público do passado. Tem a mesma educação. Tem mais renda. Também tem, provavelmente, maiores oportunidades. Pode perceber que depende da organização para ter acesso à renda e às oportunidades, e que sem o investimento que a organização fez - e um investimento alto, por sinal - não haveria emprego par ele. Mas também percebe, e acertadamente, que a organização também depende dele.”

- “Esse conflito dissimulado entre a visão de si mesmo do empregado com conhecimento como um ‘profissional’ e a realidade social na qual ele é o sucessor melhorado e bem pago do empregado qualificado de ontem explica o desapontamento de tantos jovens altamente educados ante os empregos que lhes são acessíveis.”

- “Esse conflito entre as expectativas relativas aos empregos que exigem conhecimento e sua realidade tornar-se-á mais pronunciado e mais claro a cada ano que se passa. Tornará a administração de pessoal com conhecimento cada vez mais crucial pa-

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-ra o funcionamento e as realizações da sociedade do conhecimento.

 

O aparecimento do trabalho com conhecimento

 

- “Como se deu esta mudança para a sociedade do conhecimento e para a economia do conhecimento?”

- “A resposta popular [sic] é: ‘Porque os trabalhos têm-se tornado mais complexos e mais exigentes.’ Mas a resposta correta seria: ‘Porque o período de vida útil do homem ampliou-se muito’. Não é a demanda de trabalho, mas a oferta, que caracteriza essa grande transformação da sociedade e da economia. E isso, por sua vez, também explica os problemas sociais e econômicos criados pelo surgimento do conhecimento.”

- “O advento do empregado com conhecimento modificou a natureza dos empregos. Os empregos baseados em conhecimento precisam ser criados porque a sociedade moderna precisa empregar pessoas que esperam e exigem trabalho baseado em conhecimento. Por isso o caráter do trabalho está sendo modificado.”

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- “A causa direta da elevação dos empregos é, noutros termos, a elevação do nível educacional do indivíduo que ingressa na força de trabalho. Quanto mais tempo ele ficar na escola, mais educação será exigida para a admissão num determinado trabalho ou ocupação.”

- “Mas a extensão dos anos de escola é, em si mesma, apenas um efeito e não a causa. É o resultado de um longo desenvolvimento que altero drasticamente a expectativa de vida útil nos países industrialmente avançados.”

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- aumento da vida útil do trabalhador - 50% maior que na época da Primeira Guerra Mundial

- “Isso significa que o capital humano da economia é mais do que o dobro do que era no século passado. Também aumentamos em mais de duas vezes o potencial de rendimento do indivíduo; porque a renda de um indivíduo em toda a sua vida é, obviamente, sua renda anual multiplicada pelo número de anos que ele for capaz de auferi-la. Este é o maior aumento daquilo que os economistas chamam de ‘estoque de capital’ já registrado na história econômica.”

- “A dilatação do período de vida útil alterou a razão entre os membros da população produtivos e os dependentes. Isso pode ter sido um impulso maior ainda à produtividade do que o aumento do estoque de capital. A produção total de uma sociedade não depende somente de quanto o indivíduo produz; depende também de quantas pessoas precisam ser sustentadas pela produtividade de um elemento produtivo.”

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- “A ampliação do período de vida útil nos países desenvolvidos de hoje alterou, nesses últimos cem anos, drasticamente o equilíbrio tradicional entre os produtores e os dependentes. Não basta dizer que as pessoas que sobrevivem continuam a autosustentar-se até uma idade muito mais avançada. Mais importante ainda, continuam produzindo durante tanto tempo mais que, mesmo com uma família um pouco maior, o número de dependentes por elemento produtivo decresceu sensivelmente.”

- “hoje, com uma vida útil de quarenta anos ou mais, e com uma mortalidade infantil reduzida a ponto de os bebês poderem esperar atingir a idade adulta, o indivíduo produtivo dos países desenvolvidos só precisa sustentar dois ou três dependentes em qualquer ocasião e só, via de regra, na primeira metade de sua própria vida produtiva. Em outras palavras, a dilatação do período de vida útil equivale a quadruplicar o potencial econômico do mesmo recurso, o ser humano produtivo.”

- é este enriquecimento que gera o fenômeno de mulher - esposa e mãe - não precisar trabalhar e, por conseguinte, o mito de que mulher que trabalha é por incapacidade do marido de sustentar o lar;

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- outro fator que favorece o aumento da vida útil é o processo de mecanização da agricultura - Agricultura Científica -, e não os avanços da medicina, uma vez que o trabalho no campo, especialmente o de sessenta anos atrás, envelhece o trabalhador mais rapidamente que as ocupações da cidade;

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- Administração Científica e Agricultura Científica foram os principais responsáveis pelo aumento do período de vida útil: produção de excedentes agrícolas para a alimentação de um número maior de pessoas e a eliminação do trabalho físico destrutivo; e com uma maior vida útil, os anos passados nos bancos escolares também aumentaram;

- “Em outras palavras, a extensão dos anos de educação escolar é um comportamento econômico racional. ‘Maximiza os lucros’ muito mais efetivamente do que qualquer coisa que o homem de empresa mais perspicaz pudesse imaginar.”

- mais tempo passado na escola também impede que o indivíduo tenha uma vida útil de cinqüenta anos trabalhando;

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- mesmo uma vida útil de 45 anos de trabalho pode ser demais, sobretudo para empregados com conhecimento;

- “A extensão dos anos de educação escolar força-nos a criar empregos que apliquem conhecimento ao trabalho. A pessoa que sentou nos bancos das escolas até os 18 ou 20 anos pode não ter aprendido coisa alguma. Mas adquiriu expectativas diferentes.”

- “Ele (ou ela) espera primeiramente uma espécie de emprego diferente, um emprego ‘próprio’ para uma pessoa que tenha o ginásio ou o colegial completo. Esse emprego é, antes de mais nada, um emprego que pague mais. Mas é também um emprego que ofereça maiores oportunidades. Um emprego que possibilite a ‘subsistência’ não é mais suficiente. É necessário que ofereça ‘carreira’.”

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- “A ‘explosão educacional’ posterior à Segunda Guerra Mundial alterou radicalmente a oferta do trabalho - primeiramente nos Estados Unidos e, cada vez mais, em todos os países industriais avançados, inclusive a União Soviética. Impossibilitou a continuidade da estrutura de trabalho tradicional.”

- “Devido à mudança que se operou na oferta, temor agora que criar empregos genuínos baseados no conhecimento - quer”.

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o próprio trabalho o exija, quer não. Porque um verdadeiro trabalho baseado no conhecimento é a única maneira de tornar produtivas as pessoas que tenham completado o ginásio.”

- “O fato de o empregado com conhecimento ter antecedido o trabalho baseado no conhecimento - o fato de, na verdade, o trabalho com base no conhecimento ainda estar em grande parte por vir - é um acidente histórico. De agora em diante, podemos esperar uma ênfase crescente nas habilidades baseadas no conhecimento, e em especial nas habilidades baseadas no conhecimento. Os novos empregos que se descortinam na economia parirão do conhecimento teórico e conceptual adquirido sistematicamente e num ‘curso’.”

- “Os desafios sociais, políticos e econômicos inerentes à força de trabalho dos países industrialmente avançados e levantados por ela são o fruto da dinâmica do trabalho baseado no conhecimento e das necessidades do empregado com conhecimento.”

 



[1] O termo foi forjado pelo economista de Princeton, Frits Machlup, em seu livro Production and Distribution of Knowledge in the U. S. (1962).

BAUMAN, Zygmunt; GREENHALGH, Laura. A face humana da sociologia

 

BAUMAN; GREENHALGH

Área: sociologia,filosofia.

Tema(s): modernidade líquida, sociedade contemporânea, impacto social da economia globalizada.

 

BAUMAN, Zygmunt; GREENHALGH, Laura. A face humana da sociologia. In: O Estado de São Paulo: sabático. 30 de abril de 2011. São Paulo, 2011, pp. S4-S5.

 

 

p. S4

1 - Conditio humana - o que é? - Momento de “interregno”. Mudança - reconstrução - transformação e transitoriedade - repetição do passado (?).

2 - Somos todos modernos - pois ser moderno = mudança compulsiva.

3 - Urgência e descartabilidade - consumo de coisa; consumo do eu.

4 - Cultura da celebridade - indivíduo vendável; sou visto, logo... intimité x extimité.

5 - Virtudes da extimidade - desigualdade entre ricos e pobres - estes são mais afetados que aqueles.

6 - Vulnerabilidade econômica - pessoas cronicamente carentes sofrem com maior aceitabilidade; precisamos de uma solução “acordada” de sociedade justa.

7 - Jovens x justiça de acordos - investimento familiar milionário na educação superior dos filhos x novos milionários sem diploma de 3º grau.

p. S5

8 - Formação acadêmica x futuro? - desempregados com diploma; novas profissões.

9 - Novas potências emergentes - capital em movimento global; produtos e serviços de má qualidade; economia global > política local.

10 - Consciência ambiental - confronto nos modos de produção: mineração x agricultura: destruição x manutenção.

11 - “Apetite pela novidade” - ganância do padeiro x altruísmo: de onde vem o pão fresco?

- Qual a capacidade da sociedade de resolver os problemas que ela mesma gera?

- Tim Jackson - 3 saídas: 1 - conscientizar as pessoas que o crescimento econômico tem limites; 2 - convencer os capitalistas a uma divisão dos lucros em função dos benefícios sociais e ambientais; 3 - mudar a “lógica social” dos governos para que os cidadãos enriqueçam suas existências por outros meios, não só o material.;

 

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral

 

LAKATOS

Área: sociologia geral; ciências humanas;

Tema(s): sociologia geral; história da sociologia;

 

 

LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1985, p. 44-63.

 

 

 

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2.2 Pioneiros

2.2.1 Augusto Comte (1798-1857, 59 anos) - francês

- sua preocupação como cientista era que as ciências obedecessem à máxima objetividade;

- a matemática seria o elo de ligação entre todos os ramos do saber;

- a sociologia (FÍSICA SOCIAL), para Comte, não deveria só analisar, mas propor normas de comportamento, seguindo a fórmula positivista: “saber para prever, a fim de prover”;

- 3 princípios básicos nos estudos de Comte:

   - 1 - prioridade do todo sobre as partes (análise do contexto > que o fato social)

   - 2 - o progresso dos conhecimentos é característica da sociedade humana (acumulação do saber está em coerência entre o estágio dos conhecimentos e a organização social)

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   - 3 - o homem é o mesmo por toda a parte e em todos os tempos (por sua condição biológica e sistema cerebral)

- é característica do positivismo trocar em toda parte o absoluto pelo relativo;

 

2.2.2 Herbert Spencer (1820-1903, 83 anos)

- iniciador da Escola Biológica, sob influência do darwinismo

- a sociedade é um organismo biológico: semelhanças nos processos

- sociedade e organismo vivem mais que suas partes

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lei geral da evolução:

   - estagio primitivo: simplicidade estrutural e homogeneidade

   - estagio de complexidade crescente: heterogeneidade progressiva das partes e novas maneiras de integração

- das sociedades nômades, homogêneas, indiferenciadas e de pouca organização social, política... para a sociedade complexa, heterogênea, grupos variados, maior organização social e política e maior divisão do trabalho;

 

2.2.3 Karl Marx (1818-1883, 65 anos) - alemão

- fundador do materialismo histórico: “... as relações sociais decorrem dos modos de produção (fator de transformação da sociedade)”

- determinismo econômico: “... o fator econômico é determinante da estrutura do desenvolvimento da sociedade.”

- relações técnicas de produção: a ação humana sobre a natureza para satisfazer suas necessidades;

   - relações de produção: resultado da produção e distribuição necessária para o consumo;

      - modo de produção: conjunto das relações de produção;

- “Os homens desenvolvem as relações técnicas de produção através do processo de trabalho (força humana e ferramentas), dando origem a forças produtivas que, por sua vez, geram um determinado sistema de produção (distribuição, circulação e consumo de mercadorias); o sistema de produção provoca uma divisão de trabalho (proprietários e não-proprietários das ferramentas de trabalho ou dos meios de produção) e o choque dentre as forças produtivas e os proprietários dos meios de produção determina a mudança social.”

- divisão da sociedade:

   - infra-estrutura: “... é a estrutura econômica, formada das relações de produção e forças produtivas.”

   - super-estrutura:

      - 1º nível: “... a estrutura jurídico-política, é formado pelas normas e leis que correspondem à sistematização das relações existentes;”

      - 2º nível: “... a estrutura

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ideológica (filosofia, arte, religião etc.), justificativa do real, é formado por um conjunto de idéias de determinada classe social que, através de sua ideologia, defende seus interesses.”

- a infra-estrutura é determinante, e a mudança social se origina nas modificações das produtivas e relações de produção;

- para Marx e Engels as sociedades podem ser classificadas de acordo com o tipo de relações de produção: “... a comunidade tribal, a sociedade asiática, a cidade antiga, a sociedade germânica, a sociedade feudal, a sociedade capitalista burguesa (comercial; manufatureira e industrial; financeira e colonialista) e a sociedade comunista sem classes (que se instalaria através da ditadura do proletariado).”

 

2.3 Desenvolvimento da sociologia

2.3.1 Émile Durkheim (1858-1917, 59 anos) - francês

- tido como fundador da Sociologia independente das Ciências Sociais, iniciou  “... o estudo dos fatos sociais como ‘coisas’, através de regras de rigor científico, determinou seu objeto, próprio dos estudos sociológicos, e sua metodologia.”

- princípios básicos presentes na obra A divisão do trabalho social (1893):

   - consciência coletiva: “... a soma de crenças e sentimentos comuns à média dos membros da comunidade, formando um sistema autônomo, isto é, uma realidade distinta que persiste no tempo e une as gerações.”

         - ela envolve completamente a mentalidade e moralidade do indivíduo: a ação, pensamento e sentimento do homem primitivo são conforme o grupo a que pertence;

         - há uma consciência coletiva e outra individual: “... a primeira, predominante, compartilhará com o grupo; a segunda, peculiar ao indivíduo.”;

         - nas sociedades primitivas a consciência coletiva domina a individual;

         - em sociedades mais complexas, a divisão do trabalho e a diferença entre os indivíduos pode levar a uma independência das consciências, mas as sanções permanecerão na coerção social e sistema legislativo como reflexo da primitividade;

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   - solidariedade mecânica: presente nas sociedades primitivas, originada na semelhança entre os seus membros, e é fundamental para a manutenção da igualdade grupal e, pela coerção social, pune e reprime quaisquer tentativas de diferenciação entre os indivíduos, para evitar a desintegração do grupo;

   - solidariedade orgânica: o progresso da divisão do trabalho, que necessita da diversidade das pessoas, faz com que a solidariedade mecânica se modifique; mais do que a semelhança, é necessário a independência dos indivíduos;

- Regras do método sociológico (1895), para a análise dos fatos sociais:

- primeira: na observação dos fatos sociais, considerá-los como “coisas” e não idéias, para poder manipulá-los com finalidade de estudo e análise; há aqui uma desvinculação das concepções filosóficas, biológicas e psicológicas;

- “Ao escolher seu método de pesquisa, o sociólogo deve selecionar um grupo de fenômenos cujos caracteres exteriores sejam previamente definidos, e analisar todos os que correspondem a esta definição.”

- “Na análise dos fenômenos sociais como ‘coisas’, o pesquisador deve abandonar as pré-noções e a pressuposição do significado ou caráter de uma prática ou instituição social.”; objetividade através da investigação do significado do fenômeno dentro da sociedade estudada;

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- “Para explicar um fenômeno social, deve-ser procurar a causa que o produz e a função que desempenha.”;

- a causa: “... nos fatos anteriores, sociais e não individuais;”

- a função: “... através da relação que o fato mantém com algum fim social.”

- “Durkheim, ao estabelecer as regras de distinção entre o normal e o patológico, propôs: um fato social é normal, para um tipo social determinado, quando considerado numa determinada fase de seu desenvolvimento, desde que se apresente na média das sociedades da mesma categoria, e na mesma fase de sua evolução.”; pode-se ver aqui uma certa norma de relatividade e objetividade na observação dos fatos sociais;

- “Na obra Suicídio (1897), Émile Durkheim demonstra que o suicídio varia inversamente ao grau de integração do grupo social do qual o indivíduo faz parte, com algumas exceções por ele apontadas.”

 

 

Revisão

 

Comte

- Qual a característica marcante da sociologia nascente em Comte?

- Que princípios Comte aponta para o estudo científico?

 

Spencer

- Com Spencer vê a sociedade? (Lei geral da evolução)

- Que exemplos podem ser encontrados para contextualizar os estágios evolutivos propostos por Spencer?

 

Marx

- A partir de que ponto de vista Marx interpreta a sociedade?

- O que são relações técnicas de produção, relações de produção e modo de produção?

- Com Marx explica a mudança social?

- Como Marx divide a sociedade?

- Que critério Marx e Engels usam para classificar as sociedades?

 

Durkheim

- Qual a contribuição de Durkheim para a metodologia da sociologia?

- O que é consciência coletiva?

- Em que tipos de sociedade a consciência coletiva impera sobre a consciência individual?

- O que é solidariedade mecânica?

- O que é solidariedade orgânica?

- Quais as duas primeiras regras do método sociológico?

- Que cuidado deve ter o sociólogo ao analisar os fenômenos sociais?

- Como Durkheim explica a relação entre normal e patológico na sociedade?

CASTRO, Celso Antonio Pinheiro de. Sociologia aplicada à administração

 

 

CASTRO

Área: sociologia; administração; ciências humanas

Tema(s): sociologia geral e aplicada, conceito e introdução;

 

CASTRO, Celso Antonio Pinheiro de. Sociologia aplicada à administração. São Paulo: Atlas, 2002, pp. 19-26.

 

 

p. 19

- as preocupações humanas buscam solução para problemas sociais com o critério do bem-estar do indivíduo e do grupo;

- as soluções são para o hoje (fato / prática / real) ou para o futuro (utopia / teoria / ideal)

- fato e utopia se inter-relacionam entre estabilidade e mudança;

- a solução não encontrada tem sua responsabilidade transferida ao desconhecido;

- os intermediários entre os homens e o desconhecido ganham um status privilegiado;

- com o passar da história fez-se a passagem do controle mágico-religioso para o controle racional;

- problema fundamental: conciliar estabilidade e mudança;

- duas grandes respostas: ou pela via do idealismo ou pela via do realismo;

p. 21

- Aristóteles no livro Ética: usa o termo filosofia social: “A sociedade é uma organização natural e moralmente necessária para o homem atingir a felicidade.”

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- Para Montesquieu o melhor governo é aquele que garante a liberdade individual;

- é dele a estrutura de divisão dos poderes em: LEGISLATIVO, JUDICIÁRIO e EXECUTIVO (o 4º poder: MASS MEDIA; e o 5º poder: VIOLÊNCIA)

 

Fatores de surgimento da sociologia

 

- históricos: a Revolução Francesa, 1789; a industrialização; a configuração de uma sociedade urbano-industrial;

- intelectuais: a filosofia social; a filosofia da história e a tendência aos procedimentos científicos;

- É com Augusto Comte, séc. XIX, que nasce a sociologia. Ele  formulou a “lei dos três estados” ao estudar a evolução da humanidade:

     - 1 - estado teológico (ou fictício); - 2 - estado metafísico (ou abstrato); - 3 - estado positivo (ou científico)

- sua visão da história é: amor como princípio, progresso como finalidade;

- fonte legítima do conhecimento: experiência sensível

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- sua classificação das ciências: Matemática / Física / Química / Biologia / Sociologia

- função da sociologia: estudar as leis sociais:

     - estática: ordem, coexistência social;

     - dinâmica: progresso, transformações sociais;

- “A sociologia é uma ciência que tem por objetivo observar os fatos intelectuais e morais, por meio dos quais os grupos humanos constituem-se e progridem.”

- é a partir de Comte que se origina a tendência a substituir a filosofia pela ciência, como método para o homem, o mundo e a sociedade;

- o social passará a ser explicado:

- Spencer: princípio evolucionista: “A evolução social processa-se do homogêneo para o heterogêneo, do simples para o complexo.”

- Lilienfield: organicista: “A sociedade é o mais desenvolvido dos organismos.”

- Schäffle: organicista: “Os corpos sociais são semelhantes aos corpos orgânicos, apresentando um complexo equilíbrio de forças.”

- Tarde: psicológico: “Lançou as bases da Psicologia Social. A sociedade evolui pelas leis da imitação cujo processo básico é: invenção-repetição.”

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Conceitos de sociologia geral e aplicada

 

- sociologia geral: estuda comportamento, estruturas e mudanças sociais no esforço de síntese entre as teorias; fundamentos teóricos; preocupação com: a cultura, a religião, política, arte, literatura, direito, economia, etc.

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- sociologia aplicada: estuda as peculiaridades sociais a presentes em outros campos do conhecimento; é de caráter teórico e interventivo;

- “Teorizar é a finalidade explicativa, que insere os problemas na tessitura que lhe é própria, visando ao equacionamento na perspectiva da estrutura - manutenção do status quo - ou da mudança social - transformações estruturais - de acordo com as regularidades tendenciais.”

- “Intervir é uma finalidade de características terapêuticas. Aponta as disnomias que atingem os elementos polarizadores - escolhidos para análise -, estado de anomia e as opções para equacionamento e solução desses problemas.” Segundo Florestan Fernandes: “intervenção racional”.

- a intervenção da sociologia é racional e não política, pois enquanto ciência estuda as estruturas; a decisão que pode vir seguida deste estudo não é científica, é decisão política com o respaldo de ciência;

               Questionamentos

- Qual o critério para a solução dos problemas sociais? Comente.

- Apresente seu entendimento de status.

MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia

 

MARTINS

Área: sociologia; conceito, história

Tema(s): sociologia: surgimento, formação e desenvolvimento

 

 

MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo: Nova Cultural; Brasiliense, 1996.

 

 

 

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Cap. 1 - O surgimento

 

- a sociologia pode ser vista como fruto do pensamento moderno: novo saber científico - mundo social

- ela surge “...com os derradeiros movimentos da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da sociedade capitalista”.

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- século XVIII - problemas humanos inéditos causados pelas Rev. Francesa e Rev. Industrial

- o termo sociologia só aparecerá em 1830

- RI - a introdução da máquina no processo de produção “...representou o triunfo da indústria capitalista...” liderada por empresários que, através do acúmulo de meios de produção e bens,

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tornaram as “...grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos”.

- a “consolidação da sociedade capitalista” representava “a desintegração de costumes e instituições” antigas para introduzir uma nova forma de organizar a vida social.

- a máquina na produção acaba com o modelo produtivo do artesão independente e o submete a uma severa disciplina

- Inglaterra - 1780-1860 (80 anos) - grandes centros urbanos, nascentes indústrias - produtos vendidos pelo mundo, novas realidades sociais: “reordenação da sociedade civil, a destruição da servidão, o desmantelamento da família patriarcal etc”.

- passagens: da atividade artesanal à manufatureira e depois fabril atrai os camponeses à cidade;

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- este processo submeteu mulheres e crianças a jornadas de 12h sem férias, feriados e com salário de subsistência inferior ao salário dos homens; sendo que mulheres e crianças eram mais da metade em alguns setores;

- consequências dessas mudanças: crescimento demográfico, sem condições de moradia, serviços sanitários e saúde

- “Mancehster, que constitui um ponto de referência indicativo desses tempos, por volta do início do século XIX era habitada por setenta mil habitantes; cinquenta anos depois, possuía trezentas mil pessoas.”

- “...aumento da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da crimi-

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nalidade, violência, de surtos de epidemia de tifo e cólera que dizimaram a população etc”.

- aparecimento do proletariado e seu papel na sociedade capitalista

- com poucas condições de vida, o proletariado se revolta, sabota máquinas, faz greve, nasce o sindicato;

- o confronto entre pobres e ricos passa a ser confronto de classes conscientes de seus direitos.

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- para a sociologia temos: um problema social considerado com fato a ser estudado e resolvido; fato social - objeto da sociologia;

- o debate sociológico não visava a produzir idéias, mas sim mudanças

- nomes importantes: Owen (1771-1858), Willian thompson (1775-1833), Jeremy Bentham (1748-1832);

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- as primeiras preocupações da sociologia são as consequências da RI, o que praticamente inexistia nas sociedades pré-capitalistas;

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- o abandono da visão sobrenatural e a adesão à visão racional também ajuda no surgimento da sociologia

- passamos a ter a aplicação do método científico

- 150 anos, de Copérnico a Newton, há uma grande mudança na ciência: do heliocentrismo para o geocentrismo;

- observação, experimentação [e controle]: métodos para conhecimento da natureza;

- para Francis Bacon (1561-1626) a teologia perde sua autoridade - cede lugar à dúvida metódica para um conhecimento objetivo da realidade

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- para Bacon, o conhecimento baseado na observação e experimentação amplia o poder do homem e esse método serve também para estudar a sociedade [“saber é poder]

- razão livre - racionalismo

- abando no do dogmatismo e da concepção providencialista

- “A literatura no século XVII, por exemplo, constituía uma outra área que ia se afastando do pensamento oficial, na medida em que se rebelava contra a criação literária legitimada pelo poder.”

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- grande produção do pensamento social no século XVIII - novas descobertas

- “A pressuposição de que p processo histórico possui uma lógica passível de ser apreendida constituiu um acontecimento que abria novas pistas para a investigação racional da sociedade”.

- Vico (1668-1744) - “... é o homem quem produz a história”.

- para Vico a sociedade pode ser compreendida porque é obra dos indivíduos.

- autores influenciados por Vico: David Hume (1711-1776). Adam Ferguson (1723-1816) e depois Hegel e Marx

- a sociedade passa a ser estudada pelos seus grupos:

   - Ferguson - evitar conjecturas e especulações - seguir pela indução;

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- séc. XVIII - os Iluministas - pensadores franceses: “... um grupo de filósofos que procurava não apenas as velhas formas do conhecimento, baseadas na tradição, mas a própria sociedade.”

- os filósofos iluministas, representantes intelectuais da burguesia, vão defendê-la contra a sociedade feudal

- eles têm como antecessores Descartes, Bacon e Hobes - “... os iluministas insistiam numa explicação da realidade baseada no modelo das ciências da natureza.” - influência vinda de Newton [modelo mecanicista]

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- “Influenciado por este espírito, Condorcet (1742-1794), por exemplo, desejava aplicar os métodos matemáticos ao estudo dos fenômenos socias, estabelecendo uma área própria de investigação a que denominava ‘matemática social’”.

- “Os trabalhos de Montesquieu (1689-1755), por exemplo, estabelecem uma série de observações sobre a população, o comércio, a religião, a moral, a família etc. O objetivo dos iluministas, ao estudar as instituições de sua época, era demonstrar que elas eram irracionais e injustas, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e, nesse sentido, impediam a liberdade do homem. Concebiam o indivíduo como dotado de razão, possuindo uma perfeição inata e destinado à liberdade e à igualdade social.” - nesse sentido eles combatiam as corporações,

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a autoridade feudal etc.

- a tarefa da filosofia não consistia em pensamentos abstratos, mas em raciocínios práticos de crítica da sociedade vigente para propor possibilidades de uma sociedade nova

- a vida social passava a ser mais racionalizada, frente às crenças e superstições dominantes até então;

- tanto pensadores com o “homem comum” deixavam de lado a interpretação tradicional do mundo e passavam a interpretar o mundo, seus fenômenos e instituições não mais submetidos às forças sobrenaturais, mas como  produtos da atividade humana, que poderiam ser conhecidos

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e transformados;

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